Literatura e empatia
Leio um artigo maravilhoso do grande Alberto Manguel sobre a capacidade que a literatura tem de nos tornar pessoas melhores. Diz ele que um dos seus livros de infância foi o romance Coração, de Edmundo de Amicis (que curiosamente o Manel também refere sempre como um dos que mais o terão marcado em jovem), hoje praticamente esquecido. É a história de um rapaz genovês que sai de casa para ir à procura da mãe, que trabalha na Argentina, e Manguel conta que chorou pela dor do rapaz e se perguntou se seria capaz de fazer o mesmo. E que, daí em diante, muitas das personagens dos romances – Jane Eyre, Anna Karénina, Robinson Crusoe, Dom Quixote – o ensinaram a pôr-se na pele do outro e a perceber o que era realmente o sofrimento e a alegria alheios. Diz que a literatura, não tendo aparentemente utilidade, tem-na, justamente por nos tornar muito mais atentos para o outro, disponíveis para escutar as suas angústias, nomear as nossas e partilhar problemas quotidianos. E conclui que isso é mais importante hoje do que no passado, pois muitas lutas têm hoje de se fazer de forma colectiva e solidária (em relação às crises migratórias, por exemplo). Depois apresenta números de um estudo universitário sobre a relação entre a leitura literária e a empatia. E ela existe, claro: quem lê literatura é de longe mais empático. Se ensina crianças e jovens, pense nisto.Maria do Rosário Pedreira*Eis o artigo de Manguel no New Iork Times em espanhol
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