Pela cabeça de Jan passaram os fantasmas e os dias fantasmais, creio que foi rápido, um suspiro e agora só restava Jan no chão, suando e dando gritos de dor. Também há que destacar suas expressões, a impressão de suas expressões geladas, como me dando a entender que havia algo no teto, o quê?, falei enquanto meu indicador subia e descia com uma lentidão exasperante, ai, merda, disse Jan, como dói, ratazanas, ratazanas alpinistas, babaca, e depois disse ah-ah-ah, e eu o segurei com os braços, ou o sujeitei, e foi então que me dei conta de que não só suava a cântaros, mas que o mar era frio. Sei que devia ter saído em disparada para procurar um médico, mas intuí que ele não queria ficar sozinho. Ou talvez eu tenha tido medo de sair. (Nessa noite eu soube que a noite era verdadeiramente grande.) Na verdade, visto com certa perspectiva, creio que para Jan dava na mesma eu ir ou ficar. Mas não queria um médico. Assim, eu disse a ele não morra, você está igualzinho ao idiota de Dostoiévski, eu te traria um espelho se tivéssemos um, mas como não temos, acredite em mim e trate de relaxar e não vá morrer. Então, mas antes suou pelo menos um rio norueguês, ele disse que o teto do nosso quarto estava invadido por ratazanas mutantes, não está ouvindo?, sussurrou com minha mão em sua testa e eu disse que sim, é a primeira vez que ouço guinchos de ratazanas no teto de um quarto na cobertura de um oitavo andar. Ah, disse Jan. Pobre Posadas, falou. Seu corpo era tão magro e comprido que eu me prometi que no futuro me preocuparia mais com sua comida.
Depois pareceu adormecer, os olhos semicerrados, de cara para a parede. Acendi um cigarro. Pela nossa única janela começaram a aparecer as primeiras luzes do amanhecer. A avenida, lá embaixo, continuava escura e deserta de gente, mas os carros circulavam com certa regularidade. De repente, às minhas costas, ouvi os roncos de Jan. Olhei para ele, dormia, nu no colchonete sem lençóis, em sua testa uma mecha de cabelos louros que pouco a pouco ia secando. Encostei-me na parede e me deixei deslizar até ficar sentado num canto. Pela janela passou um avião: luzes vermelhas, verdes, azuis, amarelas, o ovo de um arco-íris. Fechei os olhos e pensei nos últimos dias, nas grandes cenas tristes e no que eu podia apalpar e ver, depois me despi, me estirei no meu colchonete e tratei de imaginar os pesadelos de Jan, e de repente, antes de adormecer, como se me sugerissem, tive a certeza de que Jan havia sentido muitas coisas naquela noite, mas não medo.
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