sexta-feira, março 18

Os objetos

No dia de seu aniversário de vinte anos, alguém deu de presente a Camila Ersky uma pulseira de ouro com uma rosa de rubi. Era uma relíquia de família. Ela gostava da pulseira e só a usava em determinadas ocasiões, quando ia a algum encontro ou ao teatro, a alguma sessão de gala. Quando a perdeu, no entanto, não dividiu com o resto da família o luto de sua perda. Para ela, os objetos pareciam substituíveis, por mais valiosos que fossem. Apreciava apenas as pessoas, os canários que enfeitavam sua casa e seus cachorros. Ao longo da vida, acho que só chorou pelo desaparecimento de uma corrente de prata, com uma medalha de Nossa Senhora de Luján, banhada em ouro, presente de um de seus namorados. A ideia de ir perdendo as coisas, essas coisas que fatalmente perdemos, não a fazia sofrer como fazia o resto de sua família ou suas amigas, todas tão vaidosas. Foi sem lágrimas que viu a casa onde tinha nascido ser despojada, uma vez por um incêndio, outra, pelo empobrecimento, ardente como um incêndio, de seus adornos mais estimados (quadros, mesas, consoles, biombos, vasos, estátuas de bronze, ventiladores, anjinhos de mármore, dançarinos de porcelana, frascos de perfume em forma de flor de rabanete, cristaleiras inteiras com miniaturas repletas de cachos e barba), às vezes horríveis, mas valiosos. Suspeito que sua conformidade não era um sinal de indiferença e que ela pressentia, com certo mal-estar, que um dia os objetos tirariam dela algo muito precioso: sua juventude. Talvez agradassem mais a ela que às demais pessoas que choravam ao perdê-los. Às vezes os via. Chegavam a visitá-la, como pessoas em procissão, sobretudo à noite, quando estava para dormir, quando viajava de trem ou de carro, ou até mesmo em seu caminho diário para o trabalho. Por vezes a importunavam como se fossem insetos: ela queria espantá-los, pensar em outras coisas. Com frequência, por falta de imaginação, ela os descrevia aos filhos, nas histórias que contava a eles para distraí-los enquanto comiam. Não acrescentava aos objetos nem brilho, nem beleza, nem mistério: não era necessário.

Janet Hill
Numa tarde de inverno, voltando dos afazeres pelas ruas da cidade, ao cruzar uma praça parou em um banco para descansar. Por que imaginar apenas Buenos Aires? Há outras cidades com praças. Uma luz crepuscular banhava os galhos das árvores, as veredas, as casas que a rodeavam; aquela luz que às vezes amplia a agudeza do contentamento. Olhou para o céu por bastante tempo, acariciando suas luvas de pelica malhada; em seguida, atraída por algo que brilhava no chão, baixou os olhos e viu, depois de um instante, a pulseira que tinha perdido fazia mais de quinze anos. Com a emoção de um santo diante do primeiro milagre, recolheu o objeto. A noite caiu antes que resolvesse, como outrora, colocar a pulseira no pulso de seu braço esquerdo.

Quando chegou em casa, depois de ter olhado seu braço para se assegurar de que a pulseira não tinha se desvanecido, deu a notícia aos filhos, que nem por isso interromperam as brincadeiras, e ao marido, que a olhou desconfiado, sem interromper a leitura do jornal. Por muitos dias, apesar da indiferença dos filhos e da desconfiança do marido, despertava nela a alegria de ter encontrado a pulseira. As únicas pessoas que teriam se assombrado devidamente já tinham morrido.

Começou a recordar com mais precisão os objetos que tinham povoado sua vida; lembrou deles com saudade, com uma ansiedade desconhecida. Como em um inventário, seguindo uma ordem cronológica invertida, apareceram em sua memória a pomba de quartzo com o bico e a asa quebrados; a bomboneira em forma de piano; a estátua de bronze, que segurava uma tocha com pequenas lâmpadas; o relógio de bronze; a almofada marmórea, com borlas e listras azul-claras; os binóculos de ópera com cabo de madrepérola; a xícara de chá com inscrições e os macacos de marfim, com cestinhas cheias de macaquinhos.

Da forma mais natural para ela, e mais inacreditável para nós, foi recuperando pouco a pouco os objetos que durante muito tempo tinham morado em sua memória.

Simultaneamente percebeu que a felicidade que tinha sentido no começo se transformou em mal-estar, em temor, em preocupação.

Quase não olhava mais para as coisas, com medo de descobrir um objeto perdido.

Enquanto Camila, inquieta, tentava pensar em outras coisas, os objetos apareciam, nos mercados, nas lojas, nos hotéis, em todo canto, da estátua de bronze com a tocha que iluminava a entrada da casa ao pingente de coração atravessado por uma flecha. A boneca cigana e o caleidoscópio foram os últimos. Onde encontrou esses brinquedos que eram parte de sua infância? Tenho vergonha de contar, porque vocês, leitores, vão pensar que quero apenas assustá-los e que não falo a verdade. Pensarão que os brinquedos eram outros, parecidos com os originais, e não os mesmos; que claro que não existe apenas uma boneca cigana no mundo, nem apenas um caleidoscópio. Mas o destino quis que o braço da boneca tivesse uma borboleta desenhada em nanquim e que o caleidoscópio tivesse, sobre o tubo de cobre, o nome de Camila Ersky gravado.

Não fosse tão patética, essa história seria tediosa. Se não parece patética a vocês, leitores, ao menos é curta, e contá-la me servirá de exercício. Nos camarins dos teatros que Camila costumava frequentar, ela encontrou os brinquedos que, por uma série de coincidências, pertenciam à filha de uma bailarina; a menina insistiu em trocá-los por um urso mecânico e um circo de plástico. Camila voltou para casa com os velhos brinquedos embrulhados em folhas de jornal. Ao longo do trajeto, diversas vezes quis deixar o pacote no descanso de uma escada ou na soleira de alguma porta.

Não havia ninguém em casa. Ela escancarou a janela, inspirou o ar da tarde. Então viu os objetos alinhados contra a parede do quarto, como tinha sonhado que os veria. Ajoelhou-se para acariciá-los. Perdeu a noção do dia e da noite. Observou que os objetos tinham caras, essas caras horríveis que ganham quando os olhamos por um tempo longo demais.

Através de uma fileira de glórias, Camila Ersky tinha por fim entrado no inferno.
Silvina Ocampo, "A fúria"

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