Ali, fechando o dia, o grande crepúsculo me esperava. O vento perpétuo cortava as nuvens de quartzo. Rios de luz azul isolavam um grande bloco que o vento mantinha suspenso entre a terra e o céu.
Terras de rebanhos e sementeiras que lutavam sob a pressão polar do vento. Ao redor a terra se elevava com as torres duras da Roca Castillo, pontas cortantes, agulhas góticas e ameias naturais de granito. As montanhas dominadoras de Aysén, redondas como bolas, elevadas e lisas como mesas, mostravam retângulos e triângulos de neve.
E o céu trabalhava seu crepúsculo com véus e metais: cintilava o amarelo nas alturas, suspenso como um pássaro imenso pelo espaço puro. Tudo mudava inesperadamente, transformando-se em boca de baleia, em leopardo incendiado, em luminárias abstratas.
Senti que a imensidade tombava sobre minha cabeça, nomeando-me testemunha do Aysén deslumbrante com seus morros, suas cascatas, seus milhões de árvores mortas e queimadas que acusam seus antigos homicidas, com o silêncio de um mundo em nascimento em que está tudo preparado: as cerimônias do céu e da terra. Porém faltam o amparo, a ordem coletiva, a edificação, o homem. Os que vivem em tão grandes solidões necessitam de uma solidariedade tão ampla quanto suas grandes extensões.
Afastei-me quando se apagava o crepúsculo e a noite caía, surpreendente e azul.
Pablo Neruda, "Confesso que vivi"
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