sábado, maio 3

Estranhos seres


“Estranhos destinos dos livros... Eles ali estão, nas vitrinas ou nas prateleiras da livrarias, nos comentários dos críticos, nos anúncios dos jornais e revistas, nas sugestões dos amigos que os leram antes, e, no entanto, quantos deles não passam ou não passaram despercebidos, alheios aos nossos interesses ou à nossa curiosidade imediata de tentaculares leitores, atraídos ou envolvidos noutros caminhos , por outros livros, outros escritores. Quantos não nos dizem nada à primeira vista, restamos distantes ou indiferentes aos seus títulos, aos nomes dos seus autores, ou, às vezes, vamos adiando o seu conhecimento, por desfastio ou inércia, por temor, talvez, por defesa prévia, contra possíveis decepções ou desencantos – e também a perspectiva de que eles não nos acrescentarão nada - ou ainda de que não serão, certamente, como os “nossos” livros, os livros que escolhemos, os livros que amamos, os livros e autores a que já nos habituamos, por intimidades anteriores, por afinidades, por gozos - tornados, assim, nossos companheiros de indagações e respostas, de diálogos, afinal, e no entanto...
No entanto, um dia, acabamos por melhor atentar neles, refletem-se deles como apelos e solicitações mais fortes, cedemos às referências e às aproximações, um dia os levamos conosco e só então verificamos que estávamos “incompletos” nas nossas leituras, que aqueles são da natureza dos livros que nos escolhem”, de que falam certos especialistas psicológicos de livros e leitores”.

Américo de Oliveira Costa (1910/1996), juiz, secretário de estado, professor, jornalista e escritor deixou entre outras obras uma série dedicada ao livro, sua paixão eterna: “A biblioteca e seus habitantes” e “O comércio das palavras”, em quatro volumes.

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