“Estranhos destinos dos livros... Eles ali estão, nas
vitrinas ou nas prateleiras da livrarias, nos comentários dos críticos, nos
anúncios dos jornais e revistas, nas sugestões dos amigos que os leram antes,
e, no entanto, quantos deles não passam ou não passaram despercebidos, alheios
aos nossos interesses ou à nossa curiosidade imediata de tentaculares leitores,
atraídos ou envolvidos noutros caminhos , por outros livros, outros escritores.
Quantos não nos dizem nada à primeira vista, restamos distantes ou indiferentes
aos seus títulos, aos nomes dos seus autores, ou, às vezes, vamos adiando o seu
conhecimento, por desfastio ou inércia, por temor, talvez, por defesa prévia,
contra possíveis decepções ou desencantos – e também a perspectiva de que eles
não nos acrescentarão nada - ou ainda de que não serão, certamente, como os
“nossos” livros, os livros que escolhemos, os livros que amamos, os livros e
autores a que já nos habituamos, por intimidades anteriores, por afinidades,
por gozos - tornados, assim, nossos companheiros de indagações e respostas, de
diálogos, afinal, e no entanto...
No entanto, um dia, acabamos por melhor atentar neles,
refletem-se deles como apelos e solicitações mais fortes, cedemos às
referências e às aproximações, um dia os levamos conosco e só então verificamos
que estávamos “incompletos” nas nossas leituras, que aqueles são da natureza
dos livros que nos escolhem”, de que falam certos especialistas psicológicos de
livros e leitores”.
Américo de Oliveira Costa (1910/1996), juiz, secretário de
estado, professor, jornalista e escritor deixou entre outras obras uma série
dedicada ao livro, sua paixão eterna: “A biblioteca e seus habitantes” e “O comércio
das palavras”, em quatro volumes.
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