quinta-feira, maio 22

Machado copidescado


A trapalhada é tamanha que fica difícil decidir por onde começar. Mas trata-se de oferecer gratuitamente a novela O alienista, de Machado de Assis, para trabalhadores pobres não habituados à leitura. Como enfatiza a autora do projeto, Patricia Engel Secco, a tiragem de 300 mil exemplares, com o selo do Ministério da Cultura e da Lei de Incentivo à Leitura, quer chegar a esses não leitores, privados dos benefícios da literatura.
Diríamos que a causa, de um ponto de vista genérico, é nobre, e o dia em que ela se cumprir será o da redenção do país desigual e mal letrado (mal letrado na média, fique bem claro, e em todos os níveis sociais). Mas a edição propõe-se a resolver, num desastrado salto mortal, a quadratura do círculo: pessoas que nunca leram nada lerão Machado – esse autor deveras fascinante, capcioso, sibilino, cujos textos não se reduzem à anedota, e que pressupõem certa convivência anterior com a leitura. A solução encontrada foi a de facilitar o texto original expurgando-o das supostas dificuldades: palavras difíceis são substituídas por outras corriqueiras; construções sintáticas enviesadas, tornadas mais diretas; alusões de duplo sentido e passagens que exigem uma leitura relacional menos linear, eliminadas.

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