A trapalhada é tamanha que fica difícil decidir por onde
começar. Mas trata-se de oferecer gratuitamente a novela O alienista, de
Machado de Assis, para trabalhadores pobres não habituados à leitura. Como
enfatiza a autora do projeto, Patricia Engel Secco, a tiragem de 300 mil
exemplares, com o selo do Ministério da Cultura e da Lei de Incentivo à
Leitura, quer chegar a esses não leitores, privados dos benefícios da literatura.
Diríamos que a causa, de um ponto de vista genérico, é
nobre, e o dia em que ela se cumprir será o da redenção do país desigual e mal
letrado (mal letrado na média, fique bem claro, e em todos os níveis sociais).
Mas a edição propõe-se a resolver, num desastrado salto mortal, a quadratura do
círculo: pessoas que nunca leram nada lerão Machado – esse autor deveras
fascinante, capcioso, sibilino, cujos textos não se reduzem à anedota, e que
pressupõem certa convivência anterior com a leitura. A solução encontrada foi a
de facilitar o texto original expurgando-o das supostas dificuldades: palavras
difíceis são substituídas por outras corriqueiras; construções sintáticas
enviesadas, tornadas mais diretas; alusões de duplo sentido e passagens que exigem
uma leitura relacional menos linear, eliminadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário