Jane Schnetlage |
A mesma Marina iria cuidar da arrumação das estantes em na
casa no Rio, que “traziam apenas alguns volumes de obras clássicas em francês”.
Marina levou seus livros e “arrumou-os na mesma ordem em que os tinha na
fazenda. A prateleira de baixo para livros grandes, de história e de crítica.
Outra para poetas, clássicos modernos, em três línguas. A materna; o francês
que aprendera em pequena nas viagens e o inglês que lhe ensinara uma governanta
velha e rabugenta”.
O trecho do romance é bem autobiográfico e pode ser
comprovado em “Oito décadas”, seu livro de memórias. Alfabetizada a partir dos
cinco anos e logo familiarizada com o francês, que era “uma segunda língua
materna”, Carolina recorda nas memórias a alegria de ganhar do pai, o estadista
Joaquim Nabuco, de quem faria a biografia, o “verdadeiro milagre de receber de
uma só vez quatro livros (incrivelmente quatro!) da pena da minha querida
condessa de Ségur”. A escritora confessa que sempre foi dada à leitura, “mas os
livros para crianças que existiam nas livrarias do Brasil eram só os que nos
vinham da França”.
Carolina Nabuco nunca perdeu seu interesse pela condessa.
“Quando de longe em longe, me acontece hoje abrir por acaso um livro dela,
dou-me razão de ter em criança tanto admirado seu talento e tanto apreciado a
fidelidade quase realista dos cenários de suas estorinhas”.
Aos 14 anos, já “conhecia de muito o prazer da leitura”, mas
foi com a descoberta de Charles Dickens, em David Copperfield, descobre o
“gênio, mostrando caminhos ainda fechados”. Em suas memórias revive aquele
período: “Carreguei o livro, nesse primeiro dia, para o nosso passeio, que
naquela manhã era numa praia. Atirei-me sobre a areia para ler e fiquei alheia
a tudo que não fosse meu livro”.
Só parou advertida pela governanta inglesa: “Manhã não é
hora própria para se ficar lendo romance”.
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