Anos atrás,
perguntei ao embaixador do Brasil na Irlanda, Stelio Amarante, por que aquele
país tinha estradas tão ruins, apesar de uma das melhores educações. Ele
respondeu: “Por isso!” Fez pausa e continuou: “Deixaram para investir nas
estradas depois da educação.”
No Brasil,
sempre que se propõe educação de qualidade, vem a pergunta: “Onde encontrar o
dinheiro necessário?” Para responder esta pergunta, o relator de uma comissão
do Senado, presidida pela senadora Ângela Portela, concluiu seu trabalho, ainda
não debatido pelos senadores, mostrando que o Brasil dispõe de recursos
necessários.
A primeira
parte do relatório calcula que, para oferecer educação com a máxima qualidade,
da pré-escola ao fim do ensino médio, seria necessário investir R$ 9.500 por
aluno por ano. Com este valor seria possível atrair e manter no magistério os
professores com salário mensal de R$ 9.500; reconstruir e equipar todas as
escolas com as melhores edificações e tecnologia da informação e comunicação, e
funcionando em horário integral. Para os 52,3 milhões de alunos, estimados para
2034, o custo total seria de R$ 496 bilhões anuais.
Assumindo
uma taxa de crescimento do PIB de 2% ao ano — a média, nos últimos 20 anos, foi
de 3,1% —, em 2034 o Brasil precisará de 7,4% do PIB. Valor menor do que os 10%
determinados por força do segundo Plano Nacional de Educação II. Ainda
sobrariam 2,6% (R$ 174,2 bilhões) para os demais setores da educação. Apenas
2,3% (R$ 154,1 bilhões) a mais do que os 5,1% gastos atualmente.
Para
identificar a origem destes recursos, foram apontadas 15 fontes. Quatro delas
representam redução de gastos, por exemplo, com renúncia fiscal para a venda de
automóveis e a redução nos gastos sociais graças à educação, de até R$ 360
bilhões por ano. Caso não haja vontade política para sacrificar os beneficiados
por estes gastos e renúncias fiscais, o relatório apresenta sete outras fontes
que permitiriam R$ 355 bilhões, por meio da emissão de títulos públicos, uso de
lucro das estatais, atuação do BNDES, uso dos recursos provindos do aumento na
produtividade graças à melhoria na própria educação. Se estas fontes não forem
aceitas, o estudo identificou R$ 174 bilhões oriundos de quatro outras fontes
que exigiriam aumento de impostos — como se fosse uma CPMF para a educação e
imposto sobre grandes fortunas. A tudo isso se agregaria o valor esperado de R$
35 bilhões dos royalties do pré-sal. O total das 15 fontes e do pré-sal
chegaria a R$ 924 bilhões por ano, de acordo com o relatório ainda a ser votado
pelos senadores da comissão, que está disponível em http://bit.ly/1ycAkBA.
Portanto,
para cobrir o custo adicional necessário a uma educação ideal em todo o país,
bastaria que fossem usados menos de 25% de cada fonte.
A pergunta,
portanto, não é mais: “O Brasil tem recursos para fazer a educação que
precisa?” Agora será: “O Brasil tem vontade de usar os recursos disponíveis
para oferecer educação de qualidade a todos os brasileiros?”
Cristovam Buarque
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