No século XXI uma sonda, depois de 10 anos viajando pelo
espaço, pousa num cometa e o que vejo é tão diferente da minha imagem poética
de um cometa... Vejo pedras, aridez.
No século XXI todas as grandes Bibliotecas estão ao alcance
das mãos, realizando o sonho alucinante do poeta Borges de uma Biblioteca
Infinita como paraíso.
No século XXI tudo o que acontece no mundo, eu sei agora, no
minuto em que está acontecendo, tudo é instantâneo e se dissolve como leite em
pó. Como poeira de um cometa fugaz.
No século XXI distância e tempo não existem mais como
conhecíamos antes. Posso alcançar a voz de um ser amado a milhares de
quilômetros de distância, agora no mesmo segundo em que penso em sua voz.
Mas no século XXI, como na Idade Média, como na Europa
depois das grandes guerras, no século XX,como na Pré-história, as pessoas se
deslocam de um lado para outro, caminham foragidas por grandes distâncias,
açoitadas pela fome, pelo medo, pela saudade das suas casas ou cavernas
perdidas.
São milhares os apátridas, os refugiados, as crianças que
atravessam órfãs e sozinhas as fronteiras
Mas no século XXI, as atrocidades se parecem com atrocidades
antigas, perdidas no fundo do poço do tempo.
O inimaginável acontece no século XXI . O mal em estado
puro. O mal em estado absoluto. Pessoas desaparecem, e como na história da
Alice no País das Maravilhas, que me dava tanto medo quando eu era criança, uma
voz diz : "Cortem-lhe a cabeça". Seja no México, na Síria, no Iraque.
Precisamos abraçar nossas crianças, oferecer amor , o pão da
beleza, arte, pedaços de aurora e sussurrar em seus ouvidos as mais lindas
canções e dizer, podemos ser bons, podemos plantar, podemos cuidar, podemos
guardar no coração o rastro azul de um cometa, podemos, como diz a Bia Bedran
em seu livro "Fazer um Bem", fazer um pequeno bem cotidiano por qualquer
ser vivo, e até mesmo pelas pedras.
Podemos afagar nossas crianças e sussurrar em seus ouvidos,
vamos mudar o mundo.
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