Existem dois modos
distintos de ler os autores: um deles é muito bom e útil, o outro, inútil e até
mesmo perigoso. É muito útil ler quando se medita sobre o que é lido; quando se
procura, pelo esforço da mente, resolver as questões que os títulos dos
capítulos propõem, mesmo antes de se começar a lê-los; quando se ordenam e
comparam as idéias umas com as outras; em suma, quando se usa a razão. Pelo
contrário, é inútil ler quando não entendemos o que lemos, e perigoso ler e
formar conceitos daquilo que lemos quando não examinamos suficientemente o que
foi lido para julgar com cuidado, sobretudo se temos memória bastante para
reter os conceitos firmados e imprudência bastante para concordar com eles. O
primeiro modo de ler ilumina e fortifica a mente, aumentando o entendimento. O
segundo diminui o entendimento e gradualmente o torna fraco, obscuro e confuso.
Ocorre que a maior parte daqueles que se vangloriam de conhecer as opiniões dos
outros estuda apenas do segundo modo. Quando mais lêem, portanto, mais fracas e
mais confusas se tornam as suas mentes.
Nicolas Malebranche (1638 - 1715), in “Procura da Verdade”
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