Civilizados, para trás! Voltemos...
Humberto de Campos
Trepadeiras listam de verde úmido o velho muro cinzento, abrindo nos pequeninos cachos vermelhos e brancos uma leve alegria visual. Esta trepadeira é chamada Romeu e Julieta porque no mesmo molho estão as flores de duas cores, confusas e juntas. Uma outra, de folhas miúdas, sustenta campânulas minúsculas e rubras que abrem as bocas escarlates para os besouros escuros, redondos e sonoros.
No canto de muro, tijolos quebrados, cobertos pelos cacos de telha ruiva, aprumam-se numa breve pirâmide de que restos de papel, pano e palha disfarçam as entradas negras da habitação coletiva desde o térreo, domínio dual de Titius, o escorpião, e de Licosa, aranha orgulhosa, até o último andar onde mora um grilo solitário e tenor.
Perto há, tão curvo quanto o pescoço de um cisne, um cano de onde pende enferrujada torneira. Duas vezes por dia escorre, lento e claro, um fio de água trêmula e cintilante na sua cantiga rápida no tanque raso de bordas o nível do chão. Uma folha sempre verde passeia devagar na face arrepiada, e Dica, a aranha-d’água, corre pela superfície de prata sem molhar as seis patas finíssimas.
Na margem há duas pedras, dois tijolos sujos debaixo dos quais reside um sapo negro e outro, orgulhoso, atrevido e covarde na classe musical dos barítonos. Chama-se Fu.
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