domingo, maio 3

Ao alcance da mão

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Virginia Mori - ‘Untitled’
Virginia Mori 
O livro deve estar ao alcance da mão, quando não está em nossa memória.

O convívio com o livro é um hábito que se renova a cada página, como se ler fosse muito fácil e assim se torne à medida que lemos.


Ler aos poucos cria fôlego para se ler mais, até não saber quanto se consegue devorar com os olhos.

Tudo é minuciosamente escrutinado, à procura de sinais, baixos-relevos, inscrições apenas palpáveis, adivinhadas entrelinhas.

Ler algo que nos soa correto, descortina um novo horizonte.

Olhamos detidamente para o que descobrimos.

É inaugurado um novo princípio, passamos à próxima leitura mais sábios e mais ávidos.

Livros podem ser olhados ao acaso, como se folheássemos algo que não nos pertence, mas subitamente pode passar a fazer parte de nós.

E uma vez que desvendemos esse segredo, jamais o perdemos, porém, só o compartilhamos com quem também já o desvendou.

O hábito da leitura tem de se instalar aos poucos.

Nada aos saltos perdura.

Para fazer sempre é preciso constância, passos lentos para ir mais longe.

Ler apenas o que nos agrada, acostumar o olho à página, até que se aprenda a suportar qualquer texto e saber recusar um só ao vê-lo de relance.

Não devemos nos forçar à leitura.

A leitura não prazerosa se torna automática. Nada fica.

Impossível reter qualquer palavra.

Ler durante o tempo que se tolera, imerso no texto, como um peixe - nadar até ficar exausto.

Tentar ler o que nunca se pensou gostar.

Inaugurar novos caminhos.

Cada leitura conduz a um destino não planejado.

E ao alcançá-lo, acreditar que não havia melhor lugar para se estar.

O livro é feito não apenas para os olhos, mas para o tato.
Tocá-lo faz parte da leitura.

Saber que o que emana dele recende a jasmim ou sândalo.

Deixamo-nos seduzir pelos sentidos.

Um livro é sempre um objeto de toque.

O olho percebe o que as mãos já sabem.

E, ao saborear as palavras, sente-se repleto.

Thereza Christina Rocque da Motta

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