Envergonhava-me estar tão fraco. Envergonhei-me especialmente quando vomitei. Isso também nunca havia acontecido comigo. Minha boca se encheu, eu tentei segurar, apertando os lábios, a mão diante da boca, mas tudo saiu por entre os dedos. Então me apoiei no muro de uma casa, olhando o que tinha vomitado a meus pés, e cuspi um líquido claro e pegajoso.
A mulher que cuidou de mim o fez de um jeito quase bruto. Ela pegou meu braço e me levou pela porta escura da casa até o pátio. Havia varais esticados de janela a janela e roupas penduradas. No pátio armazenava-se madeira; numa oficina aberta, a serra rangia e as farpas voavam. Ao lado da porta para o pátio havia uma torneira. A mulher abriu a torneira, lavou primeiro a minha mão e então jogou no meu rosto a água que tinha mantido nas mãos em concha. Enxuguei o rosto com o lenço.
– Pegue o outro! – Ao lado da torneira estavam dois baldes, ela apanhou um deles e o encheu. Eu apanhei e enchi o outro e a segui pela porta. Ela levantou o braço, a água jorrou na calçada levando o vômito para o ralo. Tirou o balde da minha mão e lançou mais água sobre a calçada. Ela se endireitou e viu que eu estava chorando.
– Menino – disse admirada –, menino.
Ela me envolveu nos braços. Eu era pouco mais alto do que ela, senti seus seios no meu peito, cheirei na estreiteza do abraço meu hálito ruim e seu suor fresco e não sabia o que devia fazer com os braços. Parei de chorar. Perguntou-me onde eu morava, pôs os baldes na entrada e me levou para casa. Andou ao meu lado, uma das mãos segurando a minha pasta e a outra sobre o meu braço. A distância da Bahnhofstrasse até a Blumenstrasse não é grande. Ela andava depressa e com uma decisão que me ajudava a manter o passo. À frente de nossa casa despediu-se.
No mesmo dia minha mãe trouxe o médico, que diagnosticou a hepatite. Em algum momento contei à minha mãe sobre a mulher. Não acredito que a teria visitado se não fosse isso. Mas para minha mãe era evidente que eu, logo que pudesse, iria comprar com meu dinheiro um buquê de flores, apresentar-me e agradecer. Desse modo, fui no fim de fevereiro à Bahnhofstrasse.
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