Alexander Köster |
Nos saudosos tempos em que Francisco Escobar era prefeito e o doutor Orozimbo Corrêa Netto, oculista polígrafo, passava da oftalmologia para a botânica, falava-se muito em árvore, discutia-se nos jornais que espécies eram melhores para a arborização urbana. E magnólias, plátanos, carvalhos, alfeneiros, cássias ou tapuias-caienas, eucaliptos e quaresmeiras se sucederam no embelezamento das ruas, plantadas umas, arrancadas outras. E agora, nos últimos anos, ficaram definitivamente arrancadas. O povo respirou aliviado: a rua estava como ele queria, era só rua, postes e automóveis, com o seu festival de neuroses e de rumores. Uma beleza. Uma beleza? Não, pois ainda ficara uma árvore, uma tapuia-caiena, na esquina do doutor Perrone, médico que a viu crescer e a vem defendendo como um pai defende a filha. E há sociedades secretas maquinando a eliminação dessa última sobrevivente. Querem assassiná-la. O caso vem esquentando há certo tempo e agora acabou de ferver na Câmara Municipal. Logo estaria no Fórum, a árvore como ré, acusada de ser árvore, de não ter quatro rodas, não ter cheiro de gasolina e não sair do lugar.
Foi quando uma destas manhãs acordei ouvindo o ruído de machados, batendo a compasso como usam bater os machados nas derrubadas. Saltei da cama aflito, sob um único e negro pensamento: era a árvore do doutor Perrone, estavam aproveitando a fresca manhã para prostrá-la e esquartejá-la. Corri à janela para ver. Não, não era. A árvore na esquina estava de pé. Os machadeiros na verdade machadavam longe. Ainda não chegara o dia dela. Então, antes de pegar as ferramentas e sair para o trabalho, ajoelhei e rezei pela árvore.
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