quinta-feira, junho 11

Versinhos mais ou menos decassilábicos, em tempo de peste

Junghyeon Kwon
Um filósofo alemão já dizia
que os gregos inventaram a tragédia
porque eram felizes, Seria a comédia
a surgir, se tivessem azia.
Se cada um quer ter o que não tem,
o feliz tenta ser infeliz
e o infeliz almeja ser feliz:
ninguém nunca, mas nunca, está bem.
Antes, gostávamos de estar em casa,
e o vírus deu-nos isso de presente,
mas como o estar em casa nos atrasa
a vida, que ficou absurda, de repente!
Merda para esta vida de paz,
diria, se fosse escritor naturalista:
porque, já agora, tanto me faz
comer um bife ou simplesmente alpista.
Preparo-me, com gozo, para ver,

se tudo isto por fim terminar,
quantas obras-primas vai haver
nas gavetas por aí a engordar!
P´ra já, feliz, só a minha gatinha,
que, mal me vê, petisco adivinha.

Peço desculpa se meu pobre estro,
nestes dias de peste muito turva,
não dá para mais: eu, pobre maestro,
faço o que posso – e dou uma curva!

Eugénio Lisboa

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