Para quem sabe ver, não há paisagens monótonas. Numa campina verdejante onde pasta o gado, nos rápidos segundos que durou a visão, se soubermos ver, notaremos se os bois estão gordos, qual a raça predominante, divertimo-nos com o bezerrinho assustado pelo treme instintivamente o nosso pensamento vai para a fazenda em que passamos a infância, ou visita à estância de amigos, e à nossa memória acodem episódios relacionados com o que acabamos de ver. A paisagem é desoladora, só pedras e mato ressequido, mas tem, no alto de um barranco ou encosta empedrada cortada a prumo, um coqueiro esguio, ou elegante ipê coroado de ouro e pensamos na linda fotografia que poderíamos tomar…
Ada Vekonya |
E enquanto a nossa fantasia trabalha, os quilômetros são vencidos e os minutos se passam sem que tenhamos tempo para nos aborrecer. Até na monotonia das travessias marítimas temos como nos distrair e ilustrar, vendo surgir as nuvens de peixes voadores, os numerosos golfinhos que afloram à superfície como se nadassem rolando sobre si mesmos, as gaivotas que adejam à volta do navio, ou o inesperado jato d’água de alguma baleia longínqua. E essas cenas nos ficam na memória, servindo mais tarde para tornar mais agradável a nossa conversação.
Estas considerações vieram-me de começo, quando ia dizer-lhes que a nossa viagem S. Francisco abaixo ia decorrendo sem que sentíssemos passarem os dias.
Francisco de Barros Júnior, "Caçando e pescando por todo o Brasil"
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