O Zano é um caráter forte, ao contrário do personagem do Ítalo Zvevo, que tinha consciência, mas era um fraco de vontade. Prometia parar de fumar e não parava. Há quem diga que de vez em quando me dá um acesso de autorreferência. Aquele professor até me acusou de não despregar os olhos do meu umbigo. Com franqueza, não me acho assim tão autorreferente. Podia ser muito mais. E se não sou é porque me policio.
No caso do Zano, me impressionou o número de pessoas que se interessaram pelo seu destino. Recebi telegramas, cartas e telefonemas. Só um sujeito mal-humorado é que me perguntou se não tenho vergonha de me preocupar com um gato, quando há tanta criança na miséria. Olhe a lógica, meu amigo. Interesse por um gato não implica descaso pelas crianças. Pelo contrário.
O Zano já apareceu em sonho e duas vezes surgiu em pessoa. Alucinação? Talvez. Quem sustenta que todos os gatos siameses se parecem é porque não conhece o Zano. Sonho e alucinação à parte, ainda temos esperança. A Luciana sabe de um gato que voltou quinze dias depois. Houve um outro que ficou sumido mais de um mês. E reapareceu. Afinal onze anos de Zano são quase uma vida. Pelo menos vida de felino.
Bicho por excelência literário, o gato tem sido o mais fiel companheiro dos escritores. A Collette acabou com cara de gato. O Guimarães Rosa conversava com os seus angorás. O da Clarice Lispector a confortava nos momentos de angústia. Perguntem ao Sérgio Augusto se ele se separa dos seus. Pelo seu Gaspar, a Ana Miranda paga qualquer resgate. Enfim, com o sumiço do Zano, só me resta também sumir. A partir de hoje, tomo sumiço. Bem substituído aqui na Folha, vou ver o Brasil de longe. Mas volto logo. Descanso eu e descansam os leitores. Em todo caso, espero fazer falta. Não tanta quanto o Zano. Mas pensem em mim.
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