Não sei se a tradução do João Ribeiro, adotada aqui nos colégios, com dezenas de edições, é a que circulou em Portugal. Edição do Francisco Alves, que era português, é possível que sim. Tenho comigo a 46ª edição, de 1954. É difícil traduzir melhor. João Ribeiro contribuiu assim para a glória desse escritor hoje esquecido. Muito lido até certa época, deixou marca profunda também em vários escritores brasileiros.
José Lins do Rego o cita no Doidinho, romance que tem muito de autobiográfico. Odylo Costa Filho pensou em fundar um clube dos amigos do Coração. Nunca esqueceu as torrentes de lágrimas e emoções que, em classe ou em casa, a leitura nos despertava. De Amicis escreveu outros livros, mas só Il Cuore, aparecido em 1886, correu o mundo. Por Paulo Rónai sabemos que foi lido também na Hungria. Na Itália, nem se fala. Fez a cabeça de pelo menos três gerações.
Nascido em 1846, De Amicis morreu em 1908. Educador e ensaísta, escreveu sempre com uma nota sentimental e moral. Exaltou as virtudes cívicas e os bons sentimentos, o que para André Gide é a melhor forma de fazer má literatura. Oficial do exército, De Amicis fez a guerra de 1866 e abandonou a vida militar. Ensinou italiano na escola pública e se dedicou à formação pedagógica da juventude.
Sabendo do meu interesse por De Amicis, Marina Colasanti me mandou um recorte que dá notícia de um livro de Teresa Bianchini. Teresa foi mulher de De Amicis. Sabem o que diz dele? Velhaco, sádico, libertino. Sua vida familiar era um inferno. O filho suicidou-se aos 22 anos. De Amicis trocou a vida militar pelo jornalismo e pela boêmia. Aventureiro e socialista, foi sobretudo um mau caráter. Mas quem sabe também um bom coração?
Nenhum comentário:
Postar um comentário