É com palavras simples que o britânico George Orwell (1903-1950), cujo nome verdadeiro era Eric Arthur Blair, começa sua narrativa sobre os animais de uma fazenda que planejam uma revolução contra o proprietário explorador. O mestre da crítica social jamais poderia imaginar que A revolução dos bichos se tornaria um clássico da literatura política.
Orwell escreveu o livro entre fins de 1943 e 1944. Em seu país natal, porém, ele não encontrou nenhuma editora que o publicasse, pois o que a princípio parecia uma história infantil inofensiva era, na verdade, uma sátira sombria e uma dura acusação contra a ditadura de Stalin na União Soviética.
E como a URSS era aliada do Reino Unido contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial ainda em curso, a publicação de tal história não parecia nada oportuna. Em 1945, Animal Farm foi finalmente lançada pela Secker & Warburg.
E de que trata a fábula? Com um discurso impressionante, o idoso e respeitado javali Velho Major abre os olhos dos animais da fazenda para a incompetência do proprietário Sr. Jones, um fazendeiro constantemente bêbado, e classifica os humanos como exploradores que precisavam ser expulsos por uma revolução. Mas ele também adverte sobre o risco de se tornar igual aos humanos: "Todos os animais são iguais, independentemente de sua força ou inteligência."
Quando o Velho Major morre logo após o discurso, os animais aproveitam a oportunidade para expulsar o fazendeiro Jones da fazenda, sob a liderança dos porcos Napoleão e Bola de Neve. No começo, todos os animais governam juntos e tudo fica melhor: eles trabalham duro porque trabalham para si próprios e são solidários uns com os outros.
A Granja do Solar é então rebatizada Granja dos Bichos. Os espertos porcos, porém, logo assumem o comando e gradualmente transformam sua supremacia em ditadura, ofuscando tudo aquilo de que os animais queriam se livrar. Os porcos justificam seu poder com o slogan: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros".
As diferenças entre humanos e porcos como governantes se diluem no final do romance – também de forma visual. Os outros animais da fazenda não conseguem mais reconhecer quem é gente e quem é porco, ou quem é capitalista e quem é socialista.
A revolução dos bichos descreve o curso de uma revolução condenada ao fracasso. Orwell acreditava que as revoluções são capazes de mudar o poder de mãos. As estruturas sociais básicas, entretanto, permanecem intocadas: os poucos poderosos continuam a explorar uma maioria sem direitos.
A revolução dos bichos foi estritamente proibida na União Soviética e seus Estados-satélites. E no entanto George Orwell era um esquerdista convicto: membro do Partido Trabalhista Independente inglês, que na Guerra Civil Espanhola chegou a lutar nas fileiras do Partido Operário de Unificação Marxista (POUM), um grupo comunista visto como concorrência pelo stalinismo soviético.
A primeira tradução alemã do livro apareceu em 1946. Na República Democrática da Alemanha (RDA), no entanto, o livro extremamente desconfortável permaneceu censurado até a queda do Muro de Berlim e a dissolução da Alemanha Oriental, em 1989, assim como outra obra de Orwell, 1984.
Após a morte de Orwell, em 1950, o serviço americano de inteligência CIA comprou os direitos do filme para ganhar vantagem contra a União Soviética na Guerra Fria. O desenho animado A revolução dos bichos foi produzido no Reino Unido entre 1951 e 1954 por John Halas e Joy Batchelor.
Embora guiando-se basicamente pelo original, o enredo desemboca numa segunda revolução contra o domínio dos porcos. Afinal, em plena Guerra Fria, a CIA dificilmente deixaria capitalistas e socialistas em condição de pé de igualdade, como Orwell fez no final do romance.
Na adaptação cinematográfica de 1999, John Stephenson mudou o enredo consideravelmente ao incorporar o colapso da União Soviética em 1989 e terminar com um final feliz próprio para crianças: após anos sob o domínio dos porcos, novos humanos reassumem o controle da fazenda. Os animais gritam: "... e finalmente ficamos livres!"
Com seus livros, o jornalista e escritor britânico George Orwell queria chamar a atenção para as mazelas políticas, muitas vezes empregando para tal a forma de sátira. A revolução dos bichos e 1984, publicado em 1949, estão entre suas obras mais famosas. Neste último, ele também demonstrou o que significa viver num Estado autoritário em que há vigilância total e onde os cidadãos são manipulados pela propaganda.
A revolução dos bichos é uma fábula que se encaixa em qualquer sistema totalitário. E que, apesar de seus 75 anos de existência, permanece tristemente atual.
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