quinta-feira, julho 21

A destruição do conhecimento

Com o avanço de nossa tecnologia, conseguimos vislumbrar o futuro e o espaço sideral com um olhar diferente do que tinham os cientistas e pensadores do início do século XX. Do mesmo modo, hoje podemos analisar o passado com maior percepção e conhecimento tecnológico, pois assim como pudemos imaginar um futuro diferente daquele que nossos avós conseguiram idealizar, nós também podemos olhar o passado de forma distinta daquela imaginada pelos cientistas e especialistas de um século atrás.

Assim como nosso escopo do universo foi forçado a recuar até os mais distantes pontos do espaço, temos hoje condição de recuar até os pontos mais remotos da história. E muitos pesquisadores estão fazendo exatamente isso.

A Atlântida, com sua cultura avançada, é mencionada em textos antigos. Para começar, é citada nos Diálogos de Platão (extraídos, segundo o texto, de antigos registros egípcios), e quase todas as antigas culturas do planeta têm mitos e lendas sobre um mundo anterior e sobre o cataclismo que o destruiu. Maias, astecas e hopis acreditavam na destruição de quatro mundos (ou mais) antes do nosso. Pode ser que a destruição da Atlântida não seja sequer o mais recente cataclismo a afligir a Terra.

Os livros mais conhecidos do mundo, como a Bíblia, o Mahabharata, o Corão e até o Tao Te Ching mencionam cataclismos e antigas civilizações destruídas. Antigas civilizações e histórias a respeito delas preencheram milhares, até centenas de milhares de volumes de livros que eram guardados em bibliotecas espalhadas pelo mundo na Antiguidade. Muitas das bibliotecas antigas eram tão vastas que ficaram famosas entre os historiadores locais. A Biblioteca de Alexandria é um exemplo conhecido.


Infelizmente, é fato que, ao longo da história, bibliotecas e arquivos imensos foram deliberadamente destruídos. Segundo o famoso astrônomo Carl Sagan, existiu um livro intitulado A verdadeira história da humanidade nos últimos 100 mil anos, e encontrava-se no acervo de Alexandria. Infelizmente, este livro, como milhares de outros, foi queimado por cristãos fanáticos no século III. Os exemplares que se salvaram foram queimados alguns séculos depois pelos muçulmanos para aquecer a água do banho.

Todos os textos chineses antigos foram destruídos em 212 a.C. por ordem do imperador Chin Shih Huang Ti, construtor da famosa Muralha da China. Enormes lotes de textos antigos - praticamente tudo que dizia respeito à história, à filosofia e à ciência - foram apreendidos e queimados. Bibliotecas inteiras foram destruídas, inclusive a biblioteca real, e algumas das obras de Confúcio e de Mêncio também desapareceram nessa devastação do conhecimento. Felizmente, alguns livros sobreviveram porque algumas pessoas os ocultaram em cavernas subterrâneas, e muitas obras foram escondidas em templos taoístas, onde até hoje são religiosamente mantidas e preservadas.

Os conquistadores espanhóis destruíram todos os códices maias que encontraram. Dos muitos milhares de livros encontrados, tem-se conhecimento de apenas três ou quatro ainda existentes. Tal como as seitas cristãs fanáticas do século III e o imperador Chin Shih Huang Ti no século III a.C., os conquistadores espanhóis quiseram apagar todo e qualquer conhecimento do passado e os registros que o preservavam.

A Europa e o Mediterrâneo mergulharam na infame Idade das Trevas, quando a igreja cristã sofreu seu primeiro Cisma após uma série de concílios, a começar pelo de Nicéia, em 325. O último patriarca da igreja cristã primitiva, Nestório, foi deposto pelo Concílio de Éfeso em 431, sendo banido para a Líbia e provocando o deslocamento da igreja nestoriana para o Oriente. O conflito dizia respeito à antiga doutrina cristã da reencarnação, e à ideia de que Cristo teria natureza dupla: Jesus seria um Mestre, enquanto Cristo seria o arcanjo Melquisedeque.

No ímpeto desse conflito, todos os livros do império bizantino foram destruídos, exceto a nova versão da Bíblia, autorizada pela Igreja Católica. A Biblioteca de Alexandria foi destruída nessa época, quando a grande matemática e filósofa Hypatia foi arrastada de sua carruagem e dilacerada por uma multidão, que depois se dirigiu à biblioteca e incendiou-a. Assim teve início a supressão da ciência e do conhecimento, particularmente de nosso passado mais remoto. O conhecimento tem sido suprimido ao longo dos últimos dois mil anos. Às vezes, diz-se que a história é escrita pelos vencedores das guerras, e não pelos perdedores; e tendo em vista a quantidade de propaganda política reconhecidamente bélica que ainda é tida como “história” popular no século XX, deveríamos realmente examinar boa parte da história antiga sob esse prisma. Sabendo dessa supressão, é espantoso que os poucos textos antigos que sobreviveram abordem, com efeito, civilizações avançadas e os cataclismos que as destruíram. Do mesmo modo, falam de sábios que viviam em harmonia com a Terra e com o funcionamento natural de todas as coisas. Em algum momento do passado remoto, porém, o homem perdeu a harmonia com a natureza, e uma catástrofe atingiu todo o planeta.

Vemos aqui um notável paralelo entre o antigo “mito” da Atlântida e a situação em que o homem moderno se encontra hoje. Será que o homem moderno irá sobreviver à sua própria tecnologia e tribalismo? Ou será que irá se destruir nos mecanismos naturais de suas práticas nocivas e em desarmonia com a Terra?
David Hatcher Childress, "A incrível tecnologia dos antigos"

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