– Ya! Yaka, yaka, yaka!
Ninguém acreditou quando disseram na escola que tinha vocação para a vida eclesiástica. Mesmo assim era verdade.
Um espírito de desobediência se espalhou entre nós e, sob essa influência, diferenças de cultura e de constituição foram deixadas de lado. Nos reunimos em um grupo, uns por orgulho, uns pela brincadeira e outros pelo que mais parecia um temor; e entre esses últimos índios relutantes que tinham medo de parecer diligentes ou pouco robustos estava eu. As aventuras narradas na literatura do Velho Oeste eram distantes da minha natureza, mas pelo menos me revelaram uma rota de fuga. Eu preferia certas histórias americanas de detetive em que às vezes apareciam garotas desleixadas, corajosas e bonitas. Mesmo que não houvesse nada de errado com essas histórias e que por vezes tivessem uma pretensão literária, circulavam em segredo na escola. Um dia quando o padre Butler estava ouvindo as quatro páginas de História Romana o desastrado do Leo Dillon foi descoberto com um exemplar de The Halfpenny Marvel.
– Essa página ou essa? Essa aqui? Dillon, de pé, agora! Mal o dia havia... Prossiga! Que dia? Mal o dia havia raiado... Você estudou em casa? O que é que você tem no bolso?
O coração de todos palpitou quando Leo Dillon entregou a revista e todos adotaram uma expressão inocente. O padre Butler folheou as páginas com a testa franzida.
– Que porcaria é esta?, perguntou. O cacique apache! É isso o que você está lendo em vez de estudar História Romana? Não quero mais saber dessas bobagens aqui no colégio. O autor dessa história deve ser um borra-tintas que escreve em troca de bebida. Fico surpreso ao ver que garotos que tiveram uma educação como a de vocês leiam esse tipo de coisa. Eu até entenderia se vocês fossem... alunos da National School. E agora, Dillon, eu o aconselho sinceramente a trabalhar direito, senão...
Essa reprimenda durante as nossas sóbrias horas de estudo acabou com boa parte da glória do Velho Oeste para mim e o rosto confuso e inchado de Leo Dillon despertou uma das minhas consciências. Mas quando a influência restritiva da escola ficou para trás eu comecei a sentir sede de emoções fortes, da fuga que somente aquelas crônicas da desordem pareciam me oferecer. As guerras de faz de conta ao entardecer no fim tornaram-se tão enfadonhas para mim quanto a rotina da escola pela manhã porque eu queria que aventuras de verdade acontecessem comigo. Mas aventuras de verdade, refleti, não acontecem com pessoas que ficam em casa: precisam ser buscadas em lugares distantes.
James Joyce, "Dublinenses'
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