A partir de duas horas, todos esperaram. O portão foi aberto, o pátio varrido, os saguões lavados, os banheiros desinfetados. Colocaram flores de plástico nas cabeceiras das camas. Todos trocaram roupas, alguns receberam permissão para não usar a camisa de força, as janelas foram abertas para arejar.
Cada louco colocou-se no seu lugar habitual, ali onde os parentes sadios estavam acostumados a encontrá-los. Sentados na beira da cama, deitados em baixo dela, acomodados em bancos, ou com os bancos acomodados neles, de pé junto aos portais, encostados em colunas, ajoelhados em degraus, bebendo água da fonte, brincando no jardim, correndo em volta do pátio.
Se os parentes sadios chegavam e não encontravam o louco fazendo as coisas de costume, sofriam grande perturbação. Ansiavam, corriam a indagar o que estava acontecendo, alarmavam-se ante a possibilidade de estarem curados. Gritavam, arrancavam os cabelos, as mulheres desmaiavam, os homens sofriam palpitações. Às vezes, o próprio louco ajudava a socorrer, dando calmantes, chamando os psiquiatras de plantão, dando assistência, até que a calma se restabelecesse e os parentes sadios pudessem voltar para casa.
Neste sábado, os loucos estranharam. Os portões se abriram às onze horas. Não havia ninguém diante dele. O tempo passou, os loucos almoçaram e continuaram a esperar, agora um pouco ansiosos. Ninguém vinha. O que estava acontecendo?
À medida que o dia avançava e os parentes não chegavam, os loucos começaram a ter atitudes estranhas. Queriam sair do sanatório, queriam telefonar para pedir notícias, andavam agitados de um lado para outro, enrolando os dedos, gingando, murmurando frases incompreensíveis, gritando alucinados, tentando subir nas paredes, querendo se enroscar nos bocais, como se fossem lâmpadas, procurando se enfiar nos buracos do jardim, como se fossem formigas, rastejando como cobras, zurrando como animais, sorrindo como débeis mentais, escrevendo no ar, desenhando no céu, revirando os olhos. Todos preocupados.
Faltava pouco para as seis, os portões continuavam abertos e nenhuma visita se aproximava. Ante o barulho de um carro passando na estrada, os loucos se excitavam. A tensão era insuportável. Estariam loucos os parentes sadios?
Quando os vigilantes fecharam os portões e as sinetas tocaram para todos se recolherem ao refeitório, a tensão explodiu e eles começaram a gritar. E de sua janela, vendo os loucos a subirem as escadas, torcendo-se naquela dor interna irremediável, o diretor sentiu. Os loucos tinham-se tornado loucos.
Ignácio de Loyola Brandão, "Cadeiras proibidas"
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