segunda-feira, setembro 23
A culpa é dos jornais?
Todos os dias alguém se queixa de que as pessoas lêem textos cada vez mais curtos. As redes sociais, quando alguém publica um texto um nadinha maior, só mostra as primeiras linhas, seguidas de um "Ver mais..." em que é suposto clicarmos para ler o resto. Se o início não for suficientemente apelativo, esqueçam, ninguém se preocupará em ler a parte escondida. Os jornais, que estão sempre a queixar-se de serem cada vez menos lidos, também têm culpa nesta matéria: promovem um título em letras garrafais nas redes, mas, na maioria das vezes, quando clicamos, só há meia dúzia de linhas legíveis, mais meia dúzia que aparece em sombra e de repente o resto é só para assinantes. E, mesmo sendo assinante, tive um dia destes de gramar uma quantidade estúpida de anúncios entre parágrafos para conseguir chegar ao fim do artigo, sendo que, enquanto o lia, era sistematicamente bombardeada com interrupções sobre coisas que não me interessam absolutamente nada, mas das quais só me posso livrar x segundos mais tarde, quando, aparece a palavra "Avançar". Quem é que consegue realmente ler um texto mais longo e todo seguido num jornal online? Digo-vos que está cada vez mais difícil e temo que num futuro próximo os jornais só tenham títulos e leads, de tal modo é difícil chegar ao osso dos artigos e crónicas sem ter de ver reclames a carros e supermercados, cartazes de festivais de música, campanhas das operadoras telefónicas e promoções de imobiliárias jurando encontrar a casa dos nossos sonhos. Queridos jornais: neste caso, o meu sonho era poder ler um texto de ponta a ponta sem ser chateada. Percebo que a publicidade é o que paga o jornal, mas... essa coisa da leitura permanentemente entrecortada também não vos tirará leitores e não formará outros da pior maneira?
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