domingo, setembro 29

Velhos ipês

Há uma certa nostalgia na Primavera, já notou? Essa beleza fugaz da floração que nos rodeia, o namoro pouco discreto dos animais, a sede de sol e calor que nos faz renascer… Mais um ciclo que se inicia, provando a cada instante que tudo começa e termina, que o planeta não é eterno e muito menos, nós. Os dias escoam pelos dedos, o espelho exibe novas rugas, os cabelos embranquecem. Apesar disso, mesmo tendo visto esse filme tantas vezes, ainda nos encantamos com o perfume das manhãs, as cores do ocaso, o luar e as estrelas que conhecemos de cor.


Brotam flores em todos os ipês, brota em nós a pulsão de vida, o desejo de viver intensamente os alegres meses da estação. Como um precioso baú, eles guardam vivências da infância, quando desconhecíamos por completo a noção de finitude, estreando o mundo. Trazem também os amores imaturos da juventude, sonhos possíveis e impossíveis, as primeiras vitórias, planos de aprendiz.

E, ao atingir a idade adulta, a coleção ganhou viagens, desafios profissionais, o filho, os livros. Tudo impregnado com o sabor do amor. Numa reunião acontecida este mês, jornalistas de várias gerações que frequentaram a redação de um extinto jornal da cidade puderam renovar laços de algumas décadas. “Nossos ídolos ainda são os mesmos, mas as aparências não enganam, não”. Muitas cabeças brancas, algumas bengalas, quilos a mais, visão e audição em decadência, ausência dos que já se foram.

Mas as risadas e as lembranças continuam jovens. Nossa inocência congelada no tempo. Velhos ipês florindo, apesar de tudo.

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