terça-feira, setembro 3

O inigualável ouro da juventude

Na juventude, aspiramos ao ouro, porque não temos o tino de ver que ela, a juventude, é o ouro, uma riqueza que jamais teremos igual. Nós a gastamos, desperdiçamos, acabamos com ela inteira. No fim da vida, recebemos esmolas de afeto. O sorriso condescendente de um jovem, de uma jovem, uma palavra que nos dirijam, nos comove e nos leva às lágrimas. Que vontade temos de dizer: poupem o sorriso, economizem as palavras. Gastá-los com um velho é como adornar de ouro o pórtico de um túmulo.

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O único ouro que o velho poeta tem é o dos dentes e o da urina.

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Uma noite, em vez de contemplar a lua, olhou para um latão de lixo e sobre ele viu, faiscando como duas estrelas de ouro, os olhos de um gato. Compreendeu então que estivera todo o tempo errada sua concepção de poesia.


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Cabelos de ouro, que minhas mãos certo dia afagaram, que ardis, que tramas daninhas dos olhos meus vos furtaram?

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Ter vivido é mais importante do que viver, para quem tem a memória atenta para os raros momentos em que a vida nos oferece o seu ouro. Quem pode garantir que haverá mais ouro em nosso caminho?

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E todas as manhãs, depois daquele dia, são e serão sempre aquela em que teus dedos, como um passarinho bicando uma faísca de ouro, puxaram da estante da livraria aquele romance de Philip Roth.
Raul Drewnick

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