sábado, setembro 21

Domingo azul da infância

Convencido de ser herói que desfruta na infância a mais pura glória, ele sabe que a mentira ontem alimentava o pequeno coração como verdade, totalmente honesta quando os gestos inauguram a vida feita de impulsos e asneiras. Cada amanhecer acena ao menino com tudo que é posto no rio para que seja conquistado e alimente líquidos segredos da natureza em transformação, enquanto dure a aventura das estações, a brotar dos verdes e certamente a desaparecer na queda dos maduros.


A cidade pequena vive sua infância tropeçando nas ruas enlameadas quando é chegado o tempo de chuva pesada. Lateja nas veias a vontade visível de como ela quer crescer através do trabalho de seu povo. Move-se pela riqueza de poucos abastados e o esforço da maioria pobre, mas sem miséria. É evidente que se mostra como uma cidade ainda acanhada nos gestos e nas coisas. Há pouco movimento de carro na rua, os primeiros sobrados começam a ser erguidos no local onde moram as famílias ricas. Essa cidade caminha nos dias atribulados sem hesitar nos passos incansáveis, tornozelos e pulsos no esforço dos que levantam coisas pesadas.

Mãos rústicas arrumam maxixes, quiabos e pimentões sobre a tábua rústica da mesa armada perto do ponto de ônibus. O verdureiro carrega o tabuleiro na cabeça mercando pelas ruas couve, alface e coentro, alardeando o verde na semana, feito de verduras e legumes. Por onde passa, segue com a voz que não para, entoa uma música com notas vagarosas, quentes, que agrada a quem escuta. Merca seu produto batido pelos raios de sol, enquanto o verão aquece todas as coisas através do seu brilho trazido do infinito e que se reflete pelas pedras irregulares das ruas estreitas.

Entra e sai verão, o sol atira seus raios como flechas luminosas sobre todos os cantos da cidade. No inverno o aguaceiro bate no dorso do rio, escorrendo pelas valetas, deixando com lama as ruas sem calçamento. No tempo de estio, a cidade esbanja ardor debaixo dos azuis do céu e por entre os verdes que gramam os barrancos do rio. Podia haver dia melhor para tomar banho com os amigos nas águas do Poço da Pedra do Gelo? O rosto agitado, os gritos rasgando fendas no silêncio da natureza. Era quando mais sorria. Isso acontecia quando o rio, pleno de inocências e purezas, tinha peixe em abundância.

Ah, a vida era compreendida com suas marcas ardorosa no verão, aconchegantes no sono quando o inverno chegava com suas toalhas esvoaçantes e envolvia na manhã fria a paisagem escondida no fumo das horas.

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