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Te esperei naquela tarde como um crente espera o milagre e o mendigo espera o pão. O sol se excedia em sua majestade e jovens casais de mãos dadas gorjeavam no parque como se a qualquer momento pudessem voar se os incitasse a vontade. Eu não tinha esperança nenhuma, diga-se logo, mas confiava em certa loucura, aquela que mistura destino e fatalidade, uma loucura que só os devastados pelo amor conhecem e que nenhuma esperança jamais suplantará. Eu não tinha por que esperar mas esperei e continuei esperando mesmo depois que uma chuva fria e cruel urinou sobre mim toda sua zombaria. Fiquei te esperando porque esperar, mesmo sem esperança, é a sina e a virtude de todos os enamorados. Se tivesses aparecido, a tarde naturalmente se reabriria inteira ao sol e os jovens casais voltariam. Mas se tivesses aparecido eu não te sentiria tão presente como te senti pungentemente no instante em que, já noite, juntei minhas lágrimas à chuva e, olhando ainda para todos os lados (devia ter olhado também para o alto, minha estrela), me pus a ziguezaguear como um cão sem dono, sem faro e sem norte.
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Que as lembranças do amor sejam amenas e belas e continuemos a vê-lo como imaginávamos que ele fosse, não como ele era. Que possamos ver, ainda, no seu sorriso recordado, aquilo que nos encantou e que era fruto de nossa esperança e vontade, tolas como sempre são a esperança e a vontade de quem vê no amor aquilo que quer ver.
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