segunda-feira, setembro 30

O que não se deve pedir ao amor

Pule de que andar for, sangre a jugular, aperte a corda até sufocar, morra como lhe der vontade, mas nunca ao amor implore por piedade. Peça ao seu fornecedor um punhal ameno, uma boa cicuta ou um simples veneno, mate-se como lhe der vontade, mas nunca ao amor implore por piedade. Tranque-se no congelador, afogue-se no mar, ponha nisso todo o empenho e vá tentando até acertar, mas nunca ao amor implore por piedade.

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Um desejo de adoecer gravemente, de estar à morte, como estive quando tinha dez anos. Todos corriam para me socorrer, me acarinhar, me consolar. Era bom estar deitado, com febrões de quarenta graus. Nunca fui tão protagonista. Não me negavam nada. Tornei-me um chantagista. Cada remédio que precisava tomar, cada injeção, me rendiam alguma coisa. Tenho vontade de adoecer assim, seriamente, e ameaçar morrer se não me derem o quê? De que me valeriam os gibis agora, as figurinhas, a bola? E quem teria boa vontade comigo agora? Uma pessoa? Duas? Minha chantagem hoje precisaria ser outra: ameaçar viver muito tempo ainda, se não me dessem… o quê?

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Então ele a olhou com os olhos ainda mais tristes: “Sabe? Eu já estou bem no meu tempo de morrer.” Antes que ela pensasse em lhe dizer alguma coisa, ele completou: Vontade não me falta.”

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Minha força de vontade é suficiente apenas para manter viva minha apatia.

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Melhor não pensar, não ouvir, não falar. Deixemos o amor nos esculpir, nos moldar conforme sua vontade, e agradeçamos por tudo que ele fizer de nós. Não nos compete sugerir nada, confiemos na sabedoria de seu cinzel. Não lhe façamos nenhuma queixa, nenhum reparo, e, sempre que ele nos fitar, bem-aventurados nos sintamos se com nossos olhos de pedra conseguirmos expressar nossa gratidão.

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