domingo, novembro 30
Esse tempo de mim
"Trilha próxima ao rio", José do Rosário |
O Rio
A cidade toda sabia que o rio era uma dádiva. Tão ser, tão pedra, tão água. À margem o efêmero ante o eterno que passava. Pelas mãos do areeiro a argamassa das casas era feita de fibra específica: calo, suor e areia.
A cidade toda sabia que o rio era uma dádiva. Tão ser, tão pedra, tão água. À margem o efêmero ante o eterno que passava. Pelas mãos do areeiro a argamassa das casas era feita de fibra específica: calo, suor e areia.
Boi São Bernardo
Foi vendido velho para cumprir seu destino de boi: pasta em conserva de lata. Mas nunca ficou longe de mim. Com seu mugido ausente ecoando no verde.
Foi vendido velho para cumprir seu destino de boi: pasta em conserva de lata. Mas nunca ficou longe de mim. Com seu mugido ausente ecoando no verde.
King
Acompanhou-me nas mais incríveis aventuras. Tinha o melhor salto, o melhor olfato, o melhor agrado. Tempos depois se tornou uivo em hino. Até hoje patas no meu peito me festejam.
Acompanhou-me nas mais incríveis aventuras. Tinha o melhor salto, o melhor olfato, o melhor agrado. Tempos depois se tornou uivo em hino. Até hoje patas no meu peito me festejam.
O Aguadeiro
Quando chegava o aguadeiro, o pessoal lá de casa não sabia o que era melhor. Se a água fresca e boa que o jumento trazia nos carotes ou a limpidez de sua voz, amiga, anunciando a manhã cristalina.
Quando chegava o aguadeiro, o pessoal lá de casa não sabia o que era melhor. Se a água fresca e boa que o jumento trazia nos carotes ou a limpidez de sua voz, amiga, anunciando a manhã cristalina.
O Trem
Não ficou fogo morto, nem sucata quando o trem deu o último apito. Permaneceu aquele percurso de vagões em trilhos festivos. Bandeirolas nas janelas interligando estações coloridas. Vales e outeiros, pastos e roças, criaturas simples nos vilarejos e cidades pequenas repletas de surpresas magníficas.
Não ficou fogo morto, nem sucata quando o trem deu o último apito. Permaneceu aquele percurso de vagões em trilhos festivos. Bandeirolas nas janelas interligando estações coloridas. Vales e outeiros, pastos e roças, criaturas simples nos vilarejos e cidades pequenas repletas de surpresas magníficas.
A Idade Pequena
Embora eu brincasse como qualquer menino por todos os cantos da cidade, de maneira afoita e intensa, sujas não passavam minhas roupas pelas mãos da lavadeira. No sol das manhãs claras certamente havia um fragor de espumas. Certamente as horas com música sem a impressão das impurezas.
Embora eu brincasse como qualquer menino por todos os cantos da cidade, de maneira afoita e intensa, sujas não passavam minhas roupas pelas mãos da lavadeira. No sol das manhãs claras certamente havia um fragor de espumas. Certamente as horas com música sem a impressão das impurezas.
O Leiteiro
Ensinava o preto velho a leitura do leite. Do seu amor, sua paz; de sua generosidade, sua alegria; de sua justiça, sua sabedoria; de seus sabores brancos e líquidos nunca me esqueço. De seu canto geral para matar todas as sedes no bebedouro da vida. Das manhãs sem mácula na cidade fresca.
Ensinava o preto velho a leitura do leite. Do seu amor, sua paz; de sua generosidade, sua alegria; de sua justiça, sua sabedoria; de seus sabores brancos e líquidos nunca me esqueço. De seu canto geral para matar todas as sedes no bebedouro da vida. Das manhãs sem mácula na cidade fresca.
O Areeiro
Quando homem passava com os jumentos carregados de latas de areia, cochichavam as casas que a areia sem a pá não seria dádiva. e a pá sem a areia não seria inventiva. E a bênção tomavam ao rio, ajoelhando suas fachadas.
Quando homem passava com os jumentos carregados de latas de areia, cochichavam as casas que a areia sem a pá não seria dádiva. e a pá sem a areia não seria inventiva. E a bênção tomavam ao rio, ajoelhando suas fachadas.
Doceira
Velhas doceiras de minha cidade, cativando com açúcar. Minha mãe era uma delas. Em suas mãos de mel, as amargas nunca.
Velhas doceiras de minha cidade, cativando com açúcar. Minha mãe era uma delas. Em suas mãos de mel, as amargas nunca.
O Sábio
Um dia, o homem mais velho da cidade, beirando 100 amos de
idade, disse-me: “Sábio é o que descobre a importância da vida nos seres e
coisas comuns”. No rosto enrugado pelo tempo, com a voz serena, disse mais: “A
inveja, o ódio, a mentira e a intriga são as bebidas preferidas dos que bebem
os dias como cães. Roubam a beleza da vida. Buscam matar Deus”.
Cyro de Mattos
Uma vida em exposição
Uma das salas da Casa Museu Lope de Vega |
A vida e a
obra do escritor madrilenho do Século de Ouro, Lope de Veja, pode ser revista
na exposição de manuscritos, primeiras edições e outros documentos na Casa
Museu Lope de Veja, em Madri. O título da exposição é um jogo de palavras com a
frase “É de Lope” muito usada em sua época para designar tudo que era escrito
por ele.
Até o dia 1º
de fevereiro, os visitantes podem encontrar um fac-símile do “Códice
Durán-Masaveu”, para descobrir como escrevia Lope de Vega ou os manuscritos de
“O bastardo Mudarra” ou “O príncipe destronado”.
Falta vontade
Anos atrás,
perguntei ao embaixador do Brasil na Irlanda, Stelio Amarante, por que aquele
país tinha estradas tão ruins, apesar de uma das melhores educações. Ele
respondeu: “Por isso!” Fez pausa e continuou: “Deixaram para investir nas
estradas depois da educação.”
No Brasil,
sempre que se propõe educação de qualidade, vem a pergunta: “Onde encontrar o
dinheiro necessário?” Para responder esta pergunta, o relator de uma comissão
do Senado, presidida pela senadora Ângela Portela, concluiu seu trabalho, ainda
não debatido pelos senadores, mostrando que o Brasil dispõe de recursos
necessários.
A primeira
parte do relatório calcula que, para oferecer educação com a máxima qualidade,
da pré-escola ao fim do ensino médio, seria necessário investir R$ 9.500 por
aluno por ano. Com este valor seria possível atrair e manter no magistério os
professores com salário mensal de R$ 9.500; reconstruir e equipar todas as
escolas com as melhores edificações e tecnologia da informação e comunicação, e
funcionando em horário integral. Para os 52,3 milhões de alunos, estimados para
2034, o custo total seria de R$ 496 bilhões anuais.
Assumindo
uma taxa de crescimento do PIB de 2% ao ano — a média, nos últimos 20 anos, foi
de 3,1% —, em 2034 o Brasil precisará de 7,4% do PIB. Valor menor do que os 10%
determinados por força do segundo Plano Nacional de Educação II. Ainda
sobrariam 2,6% (R$ 174,2 bilhões) para os demais setores da educação. Apenas
2,3% (R$ 154,1 bilhões) a mais do que os 5,1% gastos atualmente.
Para
identificar a origem destes recursos, foram apontadas 15 fontes. Quatro delas
representam redução de gastos, por exemplo, com renúncia fiscal para a venda de
automóveis e a redução nos gastos sociais graças à educação, de até R$ 360
bilhões por ano. Caso não haja vontade política para sacrificar os beneficiados
por estes gastos e renúncias fiscais, o relatório apresenta sete outras fontes
que permitiriam R$ 355 bilhões, por meio da emissão de títulos públicos, uso de
lucro das estatais, atuação do BNDES, uso dos recursos provindos do aumento na
produtividade graças à melhoria na própria educação. Se estas fontes não forem
aceitas, o estudo identificou R$ 174 bilhões oriundos de quatro outras fontes
que exigiriam aumento de impostos — como se fosse uma CPMF para a educação e
imposto sobre grandes fortunas. A tudo isso se agregaria o valor esperado de R$
35 bilhões dos royalties do pré-sal. O total das 15 fontes e do pré-sal
chegaria a R$ 924 bilhões por ano, de acordo com o relatório ainda a ser votado
pelos senadores da comissão, que está disponível em http://bit.ly/1ycAkBA.
Portanto,
para cobrir o custo adicional necessário a uma educação ideal em todo o país,
bastaria que fossem usados menos de 25% de cada fonte.
A pergunta,
portanto, não é mais: “O Brasil tem recursos para fazer a educação que
precisa?” Agora será: “O Brasil tem vontade de usar os recursos disponíveis
para oferecer educação de qualidade a todos os brasileiros?”
Cristovam Buarque
sábado, novembro 29
Darwin de punho e letra
A letra ruim
de Charles Darwin, o genial cientista inglês que elaborou a teoria da
evolução no século XIX, deixou de ser um tormento para pesquisadores e curiosos
para se tornar um presente no 155º aniversário da publicação de “A Origem
das Espécies” (1859), sua grande obra, fundamento da biologia, objeto de
admiração e de controvérsia ainda hoje. O Museu de História Natural de Nova Iorque e a biblioteca da Universidade de Cambridge abriram ao público, em
seus respectivos portais na internet, a primeira parte do projeto de
digitalização dos manuscritos do pesquisador. São 12.000 documentos, com
suas respectivas transcrições, que ilustram seu trabalho durante os 25 anos em
que elaborou sua teoria e escreveu seu grande livro.
“Nesses
escritos se pode ver o pensador, o coletor de provas perspicaz, o observador
inspirado e o experimentador decidido”, afirma David Kohn, diretor do projeto,
na página web do museu nova-iorquino.
Os documentos guardam pequenas pepitas de ouro do
conhecimento, como o ensaio de 35 páginas que escreveu sobre a evolução,
no qual empregou pela primeira vez, na página 5, o termo “seleção natural”.
Esse breve trabalho contém a essência do pensamento de Darwin. Seu título
é 1842 Pencil Sketch. No verso da referida página aparece a frase
original que o cientista usou para definir sua teoria (“um meio natural de
seleção”), contida em um parágrafo totalmente riscado. Darwin a descartou e
optou por uma formulação condensada que entraria na história.
Além do
esboço original da famosa árvore ramificada das espécies, que estampa correções
e dúvidas de Darwin, e de documentos privados dirigidos à esposa, são
comovedores os desenhos dos filhos do cientista, realizados na parte de trás
dos manuscritos originais de "A Origem das Espécies", que tem cerca de 500
páginas, das que só 41 foram conservadas.
A feira
Passa gente vindo da feira. Agora temos uma feira aqui perto
de casa. Para mim apenas movimenta a esquina, com tantas empregadas e
donas-de-casa carregadas de sacos e cestas de frutas, verduras e legumes. Ao
poeta Drummond, que mora mais além, a feira deve incomodar, porque os grandes
caminhões roncam sob a sua janela, e o vozerio dos mercadores e fregueses
perturba o seu sono matinal.
O que não tem a menor importância: na atual situação do
mundo é bom que os poetas estejam vigilantes. Quanto aos cronistas, que eles
durmam em paz; é melhor que se recolham e se esqueçam de fazer a crônica destes
dias, em que não há nenhum exemplo nem lição. O poeta é mais adequado para
ouvir as exclamações patéticas [“os tomates estão pela hora da morte”] e tomar
o pulso dos fatos concretos da mercancia local. Além disso deve subir até a sua
janela a fragrância das verduras e de todas essas coisas nascidas na terra,
ainda frescas e vivas, coloridas. É bom que ele veja as quinquilharias
ingênuas, as ervas misteriosas, as pequenas inúteis e preciosas coisas do mar e
do sertão, os cavalos-marinhos e as sementes escuras. Só ele poderá entender as
coisas de barro e de palha, a glória dos tomates, o espanto de pedra no olho
dos peixes eviscerados, e o constrangimento amarelo desses abacaxis sem sabor
que amadurecem no meio do inverno.
Passa um homem careca, sério; deve um velho funcionário, e
tem o ar de quem discute muito nas feiras, capaz de citar o preço dos pepinos
em 1921 e de lamentar, como prova de decadência espiritual do Ocidente, o atual
tamanho das bananas. Sim, eram maiores as bananas de antanho. A acreditar nele
as bananas-da-terra dos tempos coloniais mediam toesas. Em todo caso, não
parece ir muito triste; carrega dois sacos verdes e de um deles sai o pedaço de
uma abóbora. Gosta de abóboras, o birbante.
“Não, senhora; só em doce, assim mesmo misturado com doce de
coco” – respondeu aquele menino àquela dramática pergunta de sua velha tia
sobre se gostava de abóbora. Essa resposta foi, na época, muito comentada como
grave prova de insolência e talvez desagregação moral. Não era. Era uma prova
de tolerância, boa vontade, anseio de compreensão; porque a vida é terrível é
que o menino não gostava mesmo de abóbora e achava que o único defeito do doce
de coco era conter, às vezes, por costume de família, um pouco de abóbora.
Estava, entretanto, disposto a superar as próprias convicções em benefício do
bem-estar geral. Tinha pudor de que pensassem que ele odiava abóbora; era uma
criança no fundo delicada, embora tenha resultado em um homem com freqüência
estúpido.
A feira, não sei por quê, me leva a essas divagações
infantis; vagueio com suave emoção entre cebolas de brilho metálico e couves e
alfaces líricas.
Há uma grata surpresa. A mais bela, esquiva e elegante
senhora da rua está pessoalmente na feira. Veio sem pintura, um vestido leve,
sandálias coloridas. Demoro-me em ver sua pele, seus cabelos, seus olhos, sobre
um fundo de couves e beterrabas. Sua pele tem uma frescura vegetal. Suas mãos
finas seguram os legumes com um experiente carinho. Quando vai para casa, um
menino conduz suas compras. Ela, porém, fez questão de levar nas mãos, como
sinal de alegria e de simplicidade, uma grande couve-flor.
Rubem Braga
sexta-feira, novembro 28
Ler ou copiar um texto
O efeito de uma estrada campestre não é o mesmo quando se caminha por ela ou quando a sobrevoamos de avião. De igual modo, o efeito de um texto não é o mesmo quando ele é lido ou copiado. O passageiro do avião vê apenas como a estrada abre caminho pela paisagem, como ela se desenrola de acordo com o padrão do terreno adjacente. Somente aquele que percorre a estrada a pé se dá conta dos efeitos que ela produz e de como daquela mesma paisagem, que aos olhos de quem a sobrevoa não passa de um terreno indiferenciado, afloram distâncias, belvederes, clareiras, perspectivas a cada nova curva [...]. Apenas o texto copiado produz esse poderoso efeito na alma daquele que dele se ocupa, ao passo que o mero leitor jamais descobre os novos aspectos do seu ser profundo que são abertos pelo texto como uma estrada talhada na sua floresta interior, sempre a fechar-se atrás de si. Pois o leitor segue os movimentos de sua mente no voo livre do devaneio, ao passo que o copiador os submete ao seu comando. A prática chinesa de copiar livros era assim uma incomparável garantia de cultura literária, e a arte de fazer transcrições, uma chave para os enigmas da China.
Walter Benjamin,
Preço fixo, lei e leitor
Recente seminário
organizado e realizado pelo SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) no
dia 17 de novembro para discutir questões relacionadas ao preço fixo trouxe
grandes esclarecimentos ao setor editorial. A numerosa e seleta plateia pode
ouvir relato das experiências da Inglaterra (não tem lei do preço fixo de
livro), França e Alemanha (adotam o preço fixo de livro), além de informações
sobre o setor no Brasil. Não é o caso, agora, de discutir os prós e contras do
regime, cada posição apoiada em argumentos sedutores. O fato, nesse particular,
é que uma discussão aberta e racional se iniciou, levando em conta basicamente
(a) as peculiaridades do país (analfabetismo e situação geográfica) e do setor
editorial brasileiro, (b) as características do mercado, como número de
livrarias, divisão geográfica do mercado, concentração de editoras, (c) as
estatísticas a respeito da produção e consumo editorial brasileiros, e (d) a
demora e imprevisibilidade da tramitação legislativa de um projeto de lei.
Destaque para a resposta do representante da França, que disse, indagado sobre
determinada conduta naquele país: “Ora, se existe lei é para ser cumprida”!
A postura do SNEL foi
feliz e muito sensata ao conduzir um debate com pés no chão, um mínimo de
informação, através de conversa franca e aberta com postura altamente
democrática e polida.
O ponto que gostaria de
destacar, no entanto, permeia essa discussão e diz respeito, mais
especificamente, a um deslocamento de eixo em termos jurídicos, para o leitor.
Minha exposição se limitou a destacar os conceitos legais do setor editorial,
como editor, livreiro e, mais discretamente, distribuidor, na Lei de Direito
Autoral (LDA) e na do Plano Nacional do Livro e Leitura, e fazer pequena
reflexão a respeito, já que não temos lei do preço fixo. Em disposição isolada,
mas significativa, a LDA atribui ao editor a decisão sobre o preço a ser
cobrado pelo livro.
Assim, como dizia, o
foco sobre o preço fixo é um sinal forte da maior atenção jurídica dada ao
leitor, pois o “autor” e “editor” já estão bem regulados nas leis. Tema
discutido no seminário como, infração à ordem econômica, venda abaixo do preço
de custo, penalidades, concentração de mercado, grandes redes livreiras, dizem
respeito à proteção ao mercado e ao leitor, este, em última análise um
consumidor do produto final livro.
Essa atenção é um
indício da ascensão, no mundo jurídico, dessa categoria “leitor/consumidor” no
eixo do setor editorial. A discussão sobre preço fixo do livro engloba todo o
segmento de venda do produto, desde a negociação dos descontos no valor para
venda a livreiros e grandes redes, até chegar a ponta do consumo, a relação com
o leitor.
E na relação com o leitor destaco a mudança que ocorrerá com a
comercialização do livro eletrônico. Já vimos, em artigos anteriores nesse
site, que a forma de acesso ao livro eletrônico se dá por meio de “licença”; o
leitor não compra o livro, mas, sim, adquire uma licença precária de leitura. A
licença constitui vínculo mais tênue, mas quase permanente, do leitor com a
editora, que poderá controlar o tempo de leitura, as anotações feitas pelo
leitor, e até cancelar a licença, se o leitor tentar reproduzir indevidamente o
livro.
Essa nova relação
editora-leitor difere daquela em que se adquire um livro físico – no qual se
consubstanciam o conteúdo e o objeto de papel – que se incorpora ao patrimônio
do leitor, sem qualquer vínculo jurídico com editora, ou com o livreiro, salvo
defeito de impressão ou montagem.
A nova relação
editora-leitor, no livro eletrônico, é muito mais intensa. Enquanto ele tiver
que acessar o livro na nuvem para lê-lo, ou receber atualizações, o vínculo
permanecerá, com direitos e obrigações para ambas as partes. Esse novo eixo,
constitui nova relação jurídica, que pode ser objeto de cobranças por parte do
leitor em relação a disponibilidade do livro, ou utilização de seus dados on
line, etc., e também reclamações por parte da editora contra eventual
reprodução indevida da obra.
O fato é que o leitor
aparece em igualdade de condições com o consumidor e a lei de consumo é muito
mais favorável a esse último, assegurando-lhe prerrogativas inexistentes em
outras relações. Sendo o leitor/consumidor a parte mais “fraca”, a lei procura
equilibrar a relação revestindo de maior força as suas pretensões.
Portanto, é importante
perceber que a discussão sobre o preço fixo do livro está situada no âmbito da
maior atenção, em termos jurídicos, para a relação editora-leitor, que tende a
ser mais regulada doravante.
quinta-feira, novembro 27
'Caçando' na biblioteca
Este Verão fui caçar numa antiquíssima biblioteca – não há bosque onde a caça seja mais agradável – a da abadia norbertina do Parque, às portas de Louvain. O acaso fez cair em minhas redes uma presa das menos vulgares, as “Anotações sobre a tradução latina do Novo Testamento”, de Lorenzo ValaErasmo de Roterdã
Cantinho do escritor
O turco Orhan Pamuk em seu local de trabalho. Prêmio Nobel de 2006 escreveu, entre outros, "Meu nome é vermelho", "Neve", "O castelo branco" e "Istambul"
Na sala de estar da minha avó ficava uma estante; por trás de suas portas de vidro trincadas e raramente abertas, acumulando poeira ao lado da Life Encyclopedia, de uma série de amarelados romances para moças e dos livros de medicina do meu tio americano, ficava um livro da altura e da largura de um jornal que eu descobri pouco depois de ter aprendido a ler. Seu título era "De Osman Gazi a Atatürk: Um panorama de seiscentos anos de história otomana", e eu adorava tanto a sua escolha de temas como suas ilustrações misteriosas e abundantes. No tempo em que o nosso apartamento ficava no mesmo andar da lavanderia, ou sempre que eu me sentia mal e deixava de ir à escola, ou se por acaso eu matasse aula sem um bom motivo, subia para o apartamento da minha avó, me sentava à escrivaninha do meu tio e ficava lendo. Li várias vezes cada linha desse livro; em anos posteriores, quando morávamos em apartamentos alugados, eu o pegava para ler sempre que ia visitar a minha avó. ("Istambul")
Ler para lidar com os males da alma
A Biblioterapia pode diminuir a ansiedade, depressão, fobias e até mesmo melhorar a autoestima entre diversos tipos de público e faixas etárias
Ao escolher um bom livro, o leitor pode viajar para outro
espaço e época e conhecer personagens únicos que podem marcá-lo para sempre. Já
foi comprovado que os benefícios vão além do entretenimento. Desde as antigas
civilizações acreditava-se que a leitura poderia proporcionar alívio às
enfermidades. Porém o nome específico de biblioterapia (terapia por meio de
livros) surgiu apenas no século XX. Inicialmente, ela era recomendada para
pessoas portadoras de conflitos internos como depressão, medos, fobias e para
idosos. Hoje, após anos de pesquisa, sabe-se que a leitura terapêutica pode
trazer diversos benefícios para diferentes tipos de pessoas em faixas etárias distintas.
Para Clarice Fortkamp Caldin, autora do livro “Biblioterapia:
um cuidado com o ser”, a leitura, ao descortinar uma outra realidade, permite
ao ser humano exercitar o imaginário, assumir as características de
determinados personagens especialmente admirados, refletir sobre suas atitudes
e aliviar suas angústias. “Isso só acontece com a leitura do ficcional, que
permite a liberdade de interpretações”, afirma. A biblioterapia também amplia a
compreensão intelectual, desenvolve senso de pertencimento, dá inspiração, corrige
ou elimina comportamentos nocivos ou confusos, e além disso pode diminuir a
ansiedade e a solidão.
Censura?
O
Metrô de São Paulo se recusou a veicular um anúncio do livro Mascarados - A verdadeira história
dos adeptos da tática black bloc, da Geração Editorial, nas suas
composições. A companhia considerou que o layout da peça publicitária não se
enquadra em seu regulamento de publicidade. A editora classificou o episódio
como “censura” e informou que seu departamento jurídico da editora analisa se
tomará alguma medida.
A peça preparada pela editora mostrava, além da capa do
livro, fotografias tiradas durante as manifestações de junho de 2013 — entre
elas, imagens de policiais atirando e um manifestante pulando sobre um carro
capotado.
Segundo o Metrô, o veto levou em conta seu regulamento para Exploração
de Mídias em Áreas e Equipamentos de Propriedade da Companhia. Por se tratar de
uma relação comercial, a recusa é permitida. Em nota, a editora disse que a
peça “não foi autorizada pois poderia incitar a violência”.
O jornalista
Willian Novaes, um dos autores do livro, disse que ficou indignado com a recusa
do Metrô. Segundo ele, não há motivos para acreditar que a peça seria uma forma
de incitar a violência entre os passageiros.
quarta-feira, novembro 26
Leitura reduz pena no Ceará
No Ceará, o preso que ler
um livro por mês poderá ter a pena diminuída em quatro dias. Se o detento ler
12 livros por ano, terá remissão de 48 dias na pena a ser cumprida. Esse é o
teor de Projeto de Lei encaminhado pelo governador do Ceará, Cid Gomes, à
Assembleia Legislativa e já entregue para análise na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) e Procuradoria da Casa.
De acordo com a mensagem
encaminhada pelo governador ao presidente da Assembleia, Zezinho Albuquerque, o
projeto de lei “pretende a regulamentação da Lei Federal que introduziu no
ordenamento jurídico a remição pelo estudo, ou seja, a redução de pena a ser cumprida
pelo condenado por meio da leitura de obras literárias”.
Para o advogado Cândido
Albuquerque, especialista em Direito Penal, o Governo do Estado pode legislar
sobre Direito Penitenciário. “O Estado não tem competência para revogar ou
modificar a Lei de Execução Penal, mas pode legislar concorrentemente onde a
Lei Federal não esteja disciplinada. Isso está previsto no artigo 24, inciso 1º
da Constituição Federal”, explica. Segundo ele, o Estado pode criar uma
situação que não esteja prevista na Lei de Execução Penal. “A Lei Federal
fala da remissão da pena, mas não especifica que a leitura pode ser utilizada
para isso, estão o Estado pode legislar neste sentido”, acrescenta.
Leia maisLivro reúne melhores práticas de estímulo à leitura
Com base na sua experiência de 15 anos com bibliotecas comunitárias, o Instituto Ecofuturo lança publicação para ajudar na formação de leitores
O livro “Confiar no texto – Habitar os livros, Boas
práticas de leitura nas Bibliotecas Comunitárias” já está disponível, virtual e
gratuitamente no Portal do Instituto Ecofuturo, e reúne iniciativas criativas e
eficientes que ajudam a atrair as pessoas para os livros ou levar os livros
onde estão as pessoas. A publicação é uma realização do Ecofuturo com autoria
do escritor Reni Adriano, consultor em leitura, literatura e formação de
mediadores e ganhador do Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura 2009 pelo
romance “Lugar”. O objetivo é disseminar essas práticas que podem ser aplicadas
ou adaptadas a diferentes contextos.
“Algumas vezes ousadas, outras vezes
surpreendentemente inventivas, essas ações mereceram destaque não pelo que
pudessem ter de exóticas, nem por mera invencionice delas. Elas se tornaram
exemplares por primarem, acima de tudo, pelo respeito à relação leitora e pelo
encontro entre pessoas e livros”, afirma Reni. Assim, para completar o
lançamento e divulgar bons exemplos promovidos pelos profissionais de
biblioteca, hoje, às 15 horas, também no Portal, o escritor participará de um
bate papo online promoção de leitura e planejamento de atividades de
bibliotecas.
Para mais informações: www.ecofuturo.org.br
Abrindo livros
Entre minhas esquisitices está o fato de minha biblioteca
não ter janelas – há apenas uma camada de vidro no alto da parede. Trancado
nesta construção, não vejo o que acontece no jardim de casa, se faz sol ou se
chove. E corro para este refúgio sempre que a vida me deixa; nenhum lugar no
mundo me atrai mais do que este reduto da individualidade. Por que uma
biblioteca fechada assim? Porque preciso me desligar da vida doméstica, dos
acontecimentos de meu bairro, das exigências da profissão, da solicitação dos
amigos. Sou carente de solidão. Mal chego do serviço, onde acabo convivendo com
muita gente, procuro logo a biblioteca com suas paredes revestidas de livro. A
sensação de estar protegido é boa, o mundo perde sua natureza hostil e sinto
que há um centro, que me aceita com meu silêncio.
A biblioteca, no entanto, não tem esta natureza apenas por
capricho. Ela representa um conceito que tenho de literatura. O que vou dizer
aqui talvez seja algo inadmissível para a maioria das pessoas. Mas o que busco
com a literatura é assassinar de uma vez só todos os meus contemporâneos mais
imediatos. Quero fazer com que eles desapareçam. Que eu nem me lembre que
existe alguém esperando isso ou aquilo de mim. Que minha filha me aguarda para
levá-la à casa de uma amiga. Que minha mulher já está com a lista do mercado
pronta. Que meu chefe se irritou porque ainda não entreguei algo que me pediu. Que
aquele amigo da infância se impacienta porque não fiz um texto sobre seu livro.
De repente, o mundo fica muito invasivo. No sinaleiro,
enchem-nos de propagandas, algumas tentadoras, como o de uma boate com
belíssimas garotas de programa. Enquanto você almoça, aparecem carros de som
ensurdecendo as ruas. À noite, as funcionárias do telemarketing ligam para
apresentar mais uma promoção do banco tal ou do cartão de crédito que você não
quer. E o celular não só toca em horas impróprias como fica anunciando torpedos
publicitários da própria operadora. Num ato de revolta, só me resta matar todas
essas pessoas.
Começo não respondendo os e-mails que me mandam – eu, tão
cordato sempre, que até dou retorno a desconhecidos. Puxo o fio do telefone.
Tranco a porta da biblioteca, mesmo sabendo que ninguém virá me incomodar aqui.
Aliás, na porta da biblioteca há um desses avisos de hotel, com a ordem: “Favor
não perturbar”. Coleciono estas papeletas, retiradas dos quartos alugados por
onde passo. É o meu recado ao mundo: FAVOR NÃO INCOMODAR! É esta a inscrição
que sonho ter em meu túmulo. Quem sabe lá, no além, seja possível a solidão
eterna.
Sei que isso é quase uma ofensa. As pessoas se querem
conectadas. Os celulares têm de tudo agora, de televisão a e-mails, e isso dá a
sensação de que habitamos o presente em tempo real. Se estar conectado é fazer
parte da vida, de vez em quando quero fazer parte da morte. Desligo o celular,
mesmo sabendo que algumas pessoas ficarão chateadas com isso. Não atendo ao
toque da campainha se estou sozinho em casa. Não ligo a tevê. Não ouço rádio.
Não abro os jornais, que se acumulam intocados num canto qualquer.
Estou fora do mundo. Estou na biblioteca. Estou lendo um
livro. Não quero saber de nada, se há louça suja na pia (logo eu, que odeio
louça suja), se está na hora da comida, se isso ou se aquilo. Tudo perde a
urgência. Há um caminho de letras para ser percorrido. Eu me deixo levar para
as regiões mais longínquas no tempo e no espaço.
Para que serve um livro de literatura? – muitos se perguntam
neste tempo em que tudo deve ter uma função. E para mim mesmo eu respondo. Um
grande livro de ficção serve para anular o mundo. Para fazer dos assuntos mais
falados no momento uma poeirinha cósmica que você nem percebe sobre os cabelos.
Ao me trancafiar num livro, exerço meu direito mais sagrado, o de não pertencer
ao meu tempo e ao meu lugar, o de não aceitar a existência das ordens do dia.
Sou um sabotador. Digo NÃO a todas as tecnologias de interação. Fico com a
coisa antiquada que é uma história impressa em papel, deixando-me perder por
horizontes fictícios, condoendo-me do destino de personagens que não existiram,
não aprendendo nenhum conceito que me ajude a parecer inteligente.Troco o
convívio com os seres reais por este com figuras imaginárias.
A literatura
serve para eu me sentir dono absoluto de um tempo, de um mundo, de um destino,
que é e não é meu.
Leio para anular o que me rodeia. Leio para provar que o
tempo é maior do que presente. Leio porque não me bastam os prazeres do agora.
Enquanto estou lendo, não existo para o mundo. Não existo
para o consumo. Não sonho com um novo modelo de carro. Com o último badulaque
eletrônico. Não me escandalizo com mais uma denúncia de corrupção. Tudo se
distancia. Ler literatura é se afastar das questões postas pelos donos do dia.
Então ler é se alienar – pode estar pensando alguém; alguém,
logicamente, que não é leitor. E eu direi que acompanhar as notícias do dia, as
inovações tecnológicas e a programação de lazer das massas é que é se alienar.
Eu me afasto de meu mundo imediato para poder vê-lo de outro
ponto de vista, como se eu fosse um personagem do passado ou do futuro, do
distante enfim, com um olhar que apequena tudo, que tira o poder de sedução das
coisas fúteis e se fixa apenas naquilo que é essencial. Leio para entender o
que é relevante no meu tempo. A leitura me dá esta visão em profundidade da
experiência humana.
Quando abro um livro, fecho o mundo ao meu redor, tornando-o
muito maior.
Miguel Sanches Neto (Transcrito de Gazeta do Povo)
terça-feira, novembro 25
Poesia sobre bibliotecas
As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.
E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.
As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».
É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.
Jorge Sousa Braga
Precariedade
Diogo Salles |
O Estado brasileiro foi irresponsável e de certo modo, nos manteve nessa apatia intelectual. A educação no Brasil é de extraordinária precariedade, portanto eu fico impressionada quando dizem que aumentou o índice de leitura. Talvez tenha aumentado o índice de curiosidade e as pessoas, devagar, estejam tentando ler aquilo que no início elas não entendiam.Nélida Piñon
segunda-feira, novembro 24
Cantinho do escritor
Recanto de trabalho do escritor espanhol Juan Marsé,
que publicou no Brasil este ano "Caligrafia dos Sonhos"
Leia!
Munchausen em nova edição
Se a mentira
é mesmo o tempero da verdade, como diz o provérbio, o Barão de Munchausen pode
ser considerado um chef. Isto porque as histórias que ele contava nos jantares
em sua casa, da carreira como militar, eram carregadas de incríveis façanhas e
muita ficção. Não poderia ser diferente. Afinal, o alemão Hieronymus Carl
Friedrich von Münchhausen (1720-1797) havia participado de duas guerras e, como
oficial do Exército, viajara pelo mundo. No caminho, ele carregou um canhão no
ombro; cavalgou, submerso, por mares; e ainda viajou até a Lua, em busca de uma
querida machadinha, arremessada ao alto pelo próprio mitômano.
As loucas
aventuras do Barão tornaram-se conhecidas graças a um bibliotecário chamado
Rudolf Erich Raspe (1736-1794), que, ao ouvi-las, informalmente, nos saraus
promovidos pelo ex-militar, resolveu redigi-las, e depois, publicá-las em “As
surpreendentes aventuras do Barão de Munchausen”. Publicado na Inglaterra em 1785,
o livro acaba de ganhar uma nova e luxuosa edição pela Cosac Naify, com capa
dura, formato gigante (23 x 33cm) e o acréscimo de 17 novas histórias,
apócrifas e inéditas no Brasil, que foram produzidas posteriormente, reforçando
a figura mítica do personagem que adorava contar vantagem. E desafiava aqueles
que duvidassem de suas proezas, como aparece na dedicatória aos leitores, em
tradução deliciosamente empolada de Claudio Alves Marcondes:
“Tendo ouvido, pela primeira vez, que as minhas aventuras foram postas em dúvida, e tidas como piadas, vejo-me na obrigação de me apresentar e de justificar o meu caráter — por sua veracidade —, empenhando três xelins na Mansion House desta grande cidade para assegurar os documentos aqui anexados. A isso me vi forçado em prol da minha honra, embora há muito tenha me retirado da vida pública e privada; espero que esta derradeira edição seja capaz de me mostrar sob uma luz adequada aos meus leitores”.
Brasil: R$ 9 bi em livros
Segundo dados do Pyxis Consumo (ferramenta de
dimensionamento de mercado do Ibope Inteligência), até o final de 2014 os brasileiros
devem investir R$ 9,32 bilhões em livros e publicações. A classe B é a que mais
consome livros em nosso país, representando 27% do consumo. Logo na sequência
aparece a classe C, com 26% do consumo
Entre as regiões do país, o Sudeste é o maior consumidor,
com 54% do consumo. As regiões Nordeste e Sul consomem 17% e 16%,
respectivamente. Já o Centro-Oeste tem um consumo estimado em 9% do total do
país.
domingo, novembro 23
Na Biblioteca
O que não pode ser dito
guarda um silêncio feito
de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiado tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.
Manuel António Pina
Conselho paterno
Livros, livros, livros
Menina ainda, sempre fui
fascinada por literatura. Lembro que minha mãe desde cedo me incutiu o gosto
pela leitura. Ela me trazia livros coloridos, fartamente ilustrados, com
clássicos de Hans Christian Andersen, o papa dos livros infantis, e de Walt
Disney. Mas tinha um livro que marcou especialmente a minha infância: Cinderela!
Guardei por décadas aquele exemplar de capa dura e de lindas ilustrações.
Ficava fascinada com a estória da princesa, da rainha megera e de seu espelho
(“Espelho, espelho meu! Haverá alguém mais linda do que eu?”).
Tanto me marcou que até hoje consigo lembrar em detalhes de Cinderela no alto
da torre, da chegada do príncipe Felipe, do beijo que a despertou de um longo e
profundo sono. Aliás, foi inspirado nesse príncipe de contos de fadas que
escolhi o mesmo nome para meu filho, anos mais tarde...
Um dos presentes que mais apreciei foi a coleção completa do de Monteiro Lobato para crianças, antes mesmo de ser levado para a telinha da TV. Como era bom viajar no tempo e no espaço, embarcar nas fantasias e aventuras do sítio mais maluco do planeta, com a sabedoria de dona Benta, a cultura erudita do Visconde de Sabugosa, a delicadeza de Narizinho, a audácia e peraltice de Pedrinho... Sem falar na maluquete da Emília, que não tinha papas na língua na hora de se posicionar.
Um dos presentes que mais apreciei foi a coleção completa do de Monteiro Lobato para crianças, antes mesmo de ser levado para a telinha da TV. Como era bom viajar no tempo e no espaço, embarcar nas fantasias e aventuras do sítio mais maluco do planeta, com a sabedoria de dona Benta, a cultura erudita do Visconde de Sabugosa, a delicadeza de Narizinho, a audácia e peraltice de Pedrinho... Sem falar na maluquete da Emília, que não tinha papas na língua na hora de se posicionar.
Gostava tanto de ler e escrever, mas tanto, que passei a escrever estorinhas
infantis e as “vendia” para os integrantes da família. Até desenhava (muito
mal, por sinal!). Era o jeito que tinha encontrado para conseguir uns trocados,
afinal os tempos eram bicudos, como diria Mário Quintana... Uma vez, entreguei
uma estorinha e meu pai chegou a duvidar que eu tinha escrito. Fiquei muito
triste. Recentemente, ele me mostrou que ainda tinha guardado com ele, fato que
me emocionou. Dessa vez, quando reafirmei que eu tinha escrito, de verdade, ele
acreditou...
Veio a adolescência e os clássicos da literatura brasileira e portuguesa invadiram a minha vida! José de Alencar, Machado de Assis, Erico Verissimo, Jorge Amado, Eça de Queirós... Me imaginava com um vestido longo, com chapéu e sombrinha, passeando pela Rua do Ouvidor... Emily Brontë, Charles Dickens, Alexandre Dumas, Júlio Verne... Lembro que na época, passava mais tempo na Biblioteca de Porto Alegre, ou em casa, lendo até tarde. Tímida, me refugiava nos livros. E foi através dos livros que me fortaleci para enfrentar o mundo. Na alegria, ou na tristeza, os livros me levavam a um porto seguro. E até hoje é assim.
À medida que a vida foi avançando, os livros foram mudando. As obras passaram a ser técnicas, relacionadas à profissão, à pesquisa, ao faro jornalístico. Porém, mesmo nos momentos em que foi difícil conciliar trabalho, a criação do filho e a casa, a literatura sempre esteve próxima: é dela que renovo minhas energias, alivio e alegro o coração.
Veio a adolescência e os clássicos da literatura brasileira e portuguesa invadiram a minha vida! José de Alencar, Machado de Assis, Erico Verissimo, Jorge Amado, Eça de Queirós... Me imaginava com um vestido longo, com chapéu e sombrinha, passeando pela Rua do Ouvidor... Emily Brontë, Charles Dickens, Alexandre Dumas, Júlio Verne... Lembro que na época, passava mais tempo na Biblioteca de Porto Alegre, ou em casa, lendo até tarde. Tímida, me refugiava nos livros. E foi através dos livros que me fortaleci para enfrentar o mundo. Na alegria, ou na tristeza, os livros me levavam a um porto seguro. E até hoje é assim.
À medida que a vida foi avançando, os livros foram mudando. As obras passaram a ser técnicas, relacionadas à profissão, à pesquisa, ao faro jornalístico. Porém, mesmo nos momentos em que foi difícil conciliar trabalho, a criação do filho e a casa, a literatura sempre esteve próxima: é dela que renovo minhas energias, alivio e alegro o coração.
Em uma época em que estar conectado virou uma obsessão, não custa lembrar o
depoimento de Bill Gates, um dos ícones do século 20: “Meus filhos terão
computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos
filhos serão incapazes de escrever, inclusive a sua própria história.”
sábado, novembro 22
Século XXI
No século XXI uma sonda, depois de 10 anos viajando pelo
espaço, pousa num cometa e o que vejo é tão diferente da minha imagem poética
de um cometa... Vejo pedras, aridez.
No século XXI todas as grandes Bibliotecas estão ao alcance
das mãos, realizando o sonho alucinante do poeta Borges de uma Biblioteca
Infinita como paraíso.
No século XXI tudo o que acontece no mundo, eu sei agora, no
minuto em que está acontecendo, tudo é instantâneo e se dissolve como leite em
pó. Como poeira de um cometa fugaz.
No século XXI distância e tempo não existem mais como
conhecíamos antes. Posso alcançar a voz de um ser amado a milhares de
quilômetros de distância, agora no mesmo segundo em que penso em sua voz.
Mas no século XXI, como na Idade Média, como na Europa
depois das grandes guerras, no século XX,como na Pré-história, as pessoas se
deslocam de um lado para outro, caminham foragidas por grandes distâncias,
açoitadas pela fome, pelo medo, pela saudade das suas casas ou cavernas
perdidas.
São milhares os apátridas, os refugiados, as crianças que
atravessam órfãs e sozinhas as fronteiras
Mas no século XXI, as atrocidades se parecem com atrocidades
antigas, perdidas no fundo do poço do tempo.
O inimaginável acontece no século XXI . O mal em estado
puro. O mal em estado absoluto. Pessoas desaparecem, e como na história da
Alice no País das Maravilhas, que me dava tanto medo quando eu era criança, uma
voz diz : "Cortem-lhe a cabeça". Seja no México, na Síria, no Iraque.
Precisamos abraçar nossas crianças, oferecer amor , o pão da
beleza, arte, pedaços de aurora e sussurrar em seus ouvidos as mais lindas
canções e dizer, podemos ser bons, podemos plantar, podemos cuidar, podemos
guardar no coração o rastro azul de um cometa, podemos, como diz a Bia Bedran
em seu livro "Fazer um Bem", fazer um pequeno bem cotidiano por qualquer
ser vivo, e até mesmo pelas pedras.
Podemos afagar nossas crianças e sussurrar em seus ouvidos,
vamos mudar o mundo.
Prazer
Araçatuba: Mais um ponto de leitura
Os moradores de Araçatuba (SP) que gostam de ler ganharam
mais um incentivo neste mês de novembro. O 13º Ponto de Leitura foi aberto no
terminal rodoviário da cidade e funciona durante o dia o todo. O morador pode
levar o livro para casa ou mesmo fazer uma doação. De acordo com o secretário
de cultura da cidade, Élio Consolaro, “o objetivo é levar a leitura e o
conhecimento para toda a cidade deixando os livros próximos a população”.
Desde 2011, Araçatuba realiza o projeto, que vem tendo boa
receptividade da população. “A pessoa pode levar o livro, pode doar, ou seja, é
um acesso democratizado. Uma vez por semana, um funcionário da biblioteca
municipal passa no local para verificar a saída dos livros e fazer um
controle”, afirma Consolaro.
Os Pontos de Leitura ficam abertos todos os dias e tem o
acervo sempre atualizado. “Queremos transformar Araçatuba em uma "cidade
leitora", e isso é uma forma de a biblioteca não ficar esperando o leitor
só em sua sede. Por isso, ela oferece o livro no ponto de ônibus, na praça, no
Pronto Socorro e em vários lugares”, finaliza.
(Fonte: G1)
sexta-feira, novembro 21
Livro de culinária, obsessão
A rotina é obsessiva: diariamente Ézio Carlos Costa gasta
horas na internet à caça de bibliotecas e novos trabalhos acadêmicos sobre
gastronomia, faz telefonemas a livreiros do país, alternando os contatos para
não esgotar a paciência de nenhum deles. Semanalmente vai à Academia Paulista
de Letras ou à Biblioteca Mario de Andrade e passeia por sebos. Mas quem é
Ézio? Atualmente, é o dono do maior acervo de livros de cozinha publicados no
Brasil do século 19 até a década de 1940.
Se a biblioteca da Academia Paulista
de Letras possui 139 exemplares dessa área nesse período e a Mario de Andrade
soma dez obras que tratam do folclore ou da história da alimentação, Ézio
possui 330 volumes, 70 deles raridades, caso da primeira edição do “Manual de
confeitaria”, de 1866, guia com utensílios, técnicas e receitas de pães, doces
e outros quitutes.
O pesquisador autodidata compra tantos exemplares que chega
a ter todas as edições de um só livro. O hobby começou em 1997, quando
trabalhava na cozinha de um hotel e o chef lhe trouxe o “Cozinheiro nacional”,
de 1882.
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