Um jovem poeta desiludido tem a ideia de se isolar do mundo numa loja de departamentos —aquelas tipo Sears, que ocupavam um prédio inteiro e vendiam de tudo. O plano do rapaz é entrar, esperar que ela feche e passar a viver lá, escondendo-se durante o dia. Faz isso e, para sua surpresa, descobre que outros já tiveram essa ideia e formam uma pequena comunidade oculta. É um conto de 1940 do escritor inglês John Collier (1901-1980), “Evening Primrose”. Stephen Sondheim fez dele um musical em 1966, de que saiu a canção “I remember”.
E de que, depois de algum tempo, eles se lembram? Do céu, chuva, vento, ruas, árvores, folhas, dias —dos dias, que eram diferentes uns dos outros. É como muitos de nós estamos nos sentindo.
Mas eu me lembro também dos muitos tipos de confinamento de que o cinema tratou, desde o de uma cela de prisão, em “O Homem de Alcatraz” (1962), de John Frankenheimer, até o do túnel que se escava para fugir, no francês “A Um Passo da Liberdade” (1960), de Jacques Becker. Do confinamento espontâneo e doentio de “Repulsa ao Sexo” (1965), de Roman Polanski, ao imposto por um desabamento, em “A Montanha dos Sete Abutres” (1951), de Billy Wilder, e ao infligido por alguém a uma vítima indefesa, como o de “O Colecionador” (1965), de William Wyler.
Lembro-me também de confinamentos coletivos, como o de “O Anjo Exterminador” (1962), de Luís Buñuel, em que grades imaginárias prendem um grupo que se destroça, e o de “A Comilança” (1973), de Marco Ferreri, em que amigos se prendem para comer até morrer. Sem falar no pior dos confinamentos, o de ser enterrado vivo, como em “Obsessão Macabra” (1962), de Roger Corman, baseado em Edgar Allan Poe.
No conto de John Collier, ninguém pode fugir da loja, para não denunciar os outros. Os que tentam são mortos, embalsamados e transformados em manequins da própria loja. Brrr? Calma, é só ficção.
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