quarta-feira, abril 22

Trechos, nada mais

Anders Zorn
Tem notado a tendência de se expressar com metáforas. Hoje lhe ocorreu que o sexo é uma dessas flores murchas de jarro.

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Quando ferida pela gozosa espada do jovem amante, a prima-dona estilhaçou com seus gritos todos os cristais do hotel, do primeiro ao último andar.

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Se você diz a um chato que vá verificar se você está na esquina, ele faz o quê? Pede que você vá junto.

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Viver é um hábito com o qual nem todos se dão bem.

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Deve-se reconhecer uma virtude nos chatos: são todos perfeccionistas.

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Melhor ficar longe da literatura. Ela não anda resolvendo nem mais o problema das editoras.

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Presunção não me falta. Gabo-me de tudo meu, até da pressão alta.

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Ao completar oitenta anos, o poeta foi homenageado na praça principal, com discurso do prefeito, valsas tocadas pela banda municipal e uma revoada de sonetos.

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Fiel ao seu antirromantismo, o poema concretista desabou sem que um só de seus tijolos gemesse um ai.

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Acorda triste, ressentido, como se fosse um morto reprovado no exame final.

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Os chatos, se fossem livros, seriam aqueles com cem páginas de texto e noventa e nove de notas explicativas.

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Alguns poetas antigos andaram levantando bandeiras e quase chefiaram revoluções. Foram demovidos a tempo pelas flores e pelos pássaros.

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O coração de um poema concretista é ali onde o cimento pulsa com maior vigor.

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Que crueldade sua dizer que devagar se vai longe a uma dessas tartarugas de quintal.

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Como resistiríamos? De tanto ver triunfar nulidades, achamos que também podíamos.

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Materiais combustíveis, como o amor, só devem ser utilizados em poetas concretistas se obedecerem às normas de segurança.

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Todo provérbio se apresenta como uma espécie de amostra grátis da verdade.

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