Naquela manhã, Jim Sams, inteligente mas de forma alguma profundo, acordou de um sonho inquieto e se viu transformado numa criatura gigantesca. Permaneceu por bom tempo deitado de costas (não que fosse sua posição predileta) e contemplou, consternado, seus pés distantes, a escassez de membros. Apenas quatro, obviamente, e bastante rígidos. Suas perninhas marrons, das quais já sentia alguma nostalgia, estariam se agitando alegremente no ar, embora sem a menor utilidade. Ele permaneceu imóvel, decidido a não entrar em pânico. Um órgão, um pedaço de carne úmida e escorregadia, estava plantado em sua boca — repugnante, sobretudo quando se movia por conta própria a fim de explorar a vasta caverna de seu orifício bucal e, ele notou com mudo espanto, de deslizar por uma imensidão de dentes. Percorreu com os olhos toda a extensão de seu corpo. A coloração dele, dos ombros aos tornozelos, era de um azul pálido, com fios azuis mais escuros em volta do pescoço e dos pulsos, bem como botões brancos numa linha vertical ao longo do tórax não segmentado. Ele aceitou como sendo sua respiração a brisa leve que soprava de quando em quando, trazendo um odor agradável de comi da em decomposição e álcool de cereais. Sua visão tinha infelizmente se estreitado — ah, que saudade de um olho composto —, e tudo que via era opressivamente colorido. Começava a entender que, em virtude de uma grotesca inversão, sua pele vulnerável se encontrava do lado de fora do esqueleto, sendo agora, por tal razão, totalmente invisível para ele. Que alívio teria sido vislumbrar aquele marrom nacarado tão familiar!
Tudo isso era deveras preocupante, porém, à medida que foi ficando mais desperto, ele se lembrou de que estava engajado numa missão importante e solitária, embora no momento fosse incapaz de recordar qual era. Vou chegar atrasado, pensou, ao tentar erguer do travesseiro uma cabeça que devia pesar uns cinco quilos. É muito injusto, disse a si mesmo. Não mereço isso. Seus sonhos fragmentários tinham sido profundos e conturbados, repletos de vozes ásperas e ecoantes em constante divergência. Só agora, quando sua cabeça tombou de volta, ele começou a ver mais além do sono e trouxe à mente um mosaico de recordações, impressões e intenções que escapavam para todos os lados quando ele tentava apreendê‑las.
Sim, ele tinha ido embora do agradavelmente decadente Palácio de Westminster sem nem dizer adeus. Teve de ser assim. Discrição era tudo. Sabia disso sem que lhe ti‑ vessem dito. Mas quando exatamente se pusera a caminho? Sem dúvida depois de escurecer. Na noite anterior? Uma noite antes ainda?
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