Ontem falei de bibliotecas, hoje falo de livrarias e de livreiros. No tempo em que eu me tornei leitora, as livrarias eram muito diferente das de hoje. Tinham à frente homens e mulheres que eram grandes leitores, ou pelo menos conheciam muito bem o que tinham dentro da loja. Estabeleciam frequentemente com os clientes um relacionamento pessoal, chamando a atenção para determinadas novidades que provavelmente lhes interessariam. Sabiam aconselhar livros para crianças de idades diferentes; e, por vezes, até telefonavam a um cliente específico a dizer que tinha chegado de longe aquele livro, que depois guardavam debaixo da mesa para não serem apanhados pela PIDE. Com honrosas excepções, esta espécie de livreiro já não se encontra, não só porque, com o aumento do número de leitores e pessoas escolarizadas, a edição se foi progressivamente transformando numa indústria, mas porque, para a maioria dos jovens, a cultura se tornou uma coisa muito mais superficial e as pessoas hoje estão, infelizmente, mais viradas para a informação e o conhecimento rápidos, e também mais dispostas a uma fruição rápida (meia hora de um episódio de uma série contra duzentas páginas de um romance). Em Portugal desapareceram as livrarias independentes quase todas, mas em Espanha, por exemplo, elas ainda contam muito, e dois escritores espanhóis quiseram prestar-lhes homenagem nestes tempos horríveis com um artigo maravilhoso que aqui vos deixo. Gostei muito de duas ideias: a do livreiro que escolhe os livros para o jovem cliente como quem escolhe flores para a abelha, estimulando o pólen da imaginação; e a ideia de que o escritor é uma ilha e o leitor um continente. Mas, por favor, leiam estes elogios aos livreiros, merecidíssimos, e honrem os vossos livreiros, se ainda os têm, partilhando-os com eles.Aqui
Maria do Rosário Pedreira
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