Ele nunca leu uma obra completa, conseguiu estudar só até a quarta série do ensino fundamental, mas vive rodeado de livros. Ou melhor, vivia. Quem passou, nos últimos três anos, pela avenida do Contorno, na altura do bairro Carmo, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, provavelmente já viu o sebo do Odilon.
Mas o comércio de livros a céu aberto instalado na calçada na rua Grão Mogol, que passou a fazer parte do cenário da região, foi alvo de vandalismo no último fim de semana. E seu esforço anos de trabalho foi incendiado. Pelo menos 3.000 livros foram destruídos por um homem que chegou a ser flagrado por câmeras de segurança. A polícia investiga o caso. Nas redes sociais, belo-horizontinos mobilizam esforços para conseguir novos exemplares para o Odilon vender.
"Eu não tenho inimizades, nunca ofendi ninguém, não consigo entender porque alguém fez isso. Mas vou ser bem sincero, não me surpreendi. Já passei por muita coisa nessa vida, difícil algo me abalar. Lamento pela pessoa, mas estou tranquilo, a gente não tem nada nessa vida mesmo", conta o ambulante.
O incêndio não foi o único contratempo sofrido por Odilon nos últimos tempos. Ele conta que recentemente foi alvo de ladrões também. Muito conhecido na região, ele costumava deixar os livros empacotados no local quando não estava trabalhando e nunca havia sido sofrido um roubo. Até que teve 5.000 exemplares levados. Agora, tenta superar os dois reveses e reerguer seu negócio.
A história de Odilon com os livros começou quando ele ainda recolhia e vendia garrafas PET e latinhas de alumínio para reciclagem. Ele conta que cansava de encontrar livros nas lixeiras. E resolveu, então, dar um novo destino aos exemplares. Foi quando se instalou na região com o objetivo de ter um negócio próprio.
“Você acredita que as pessoas jogam livro fora? Encontrava toda semana. Já peguei 50, cem livros, de uma vez só", conta ele, que se sente importante divulgador de cultura. "Já fiz vários tipos de bico, comigo não tem tempo ruim, já trabalhei em plantação de lavoura, em fábrica de louças e catador de papelão. Mas aqui é diferente, o livro é um aprendizado eterno. Me sinto importante, um divulgador da cultura. Mudei muito minha forma de pensar depois que comecei a ler mais”, diz.
A maior parte dos livros que Odilon comercializa é recebida de doações. Todos os exemplares do local são vendidos um preço único: R$ 5. No início, ele conta que vendia de três a cinco unidades por dia. Mas, até antes da quarentena, o volume deu um salto e a média chegou a cem por dia. Por conta do isolamento e da restrição do funcionamento do comércio, o ex-catador de papelão chegou a ficar dois meses parado e vinha sobrevivendo com a ajuda do auxílio do emergencial do governo federal.
Agora, Odilon conta novamente com a ajuda de vizinhos e clientes, para reerguer sua "livraria". “Vou mudar a maneira de trabalhar para que as pessoas não coloquem fogo mais, mas vou continuar aqui. Meu sonho mesmo é ter a minha própria banca, assim evitaria confusões”, revela.
A realização do sonho do ambulante também resolveria um outro problema. Dois anos atrás, ele chegou a ser expulso do local, quando a prefeitura recolheu 2.000 exemplares, pois o Código de Posturas da capital (lei 8.616/2003) proíbe este tipo de atividade em espaço público. Após repercussão, advogados de um escritório vizinho ao ponto onde ele vende os livros decidiram representá-lo para que ele ficasse por ali. Na época, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que iria fornecer ao “livreiro” uma vaga em um shopping popular.
Trabalhando de domingo a domingo, do horário do almoço até o anoitecer, o vendedor tem se surpreendido com a solidariedade. Mesmo sem trabalhar, ele tem ficado todos os dias em sua "banca" e, desde a última segunda-feira (29), tem recebido novos livros de moradores da região. "Eu to sempre aqui, mas mesmo quando não estou as pessoas têm deixado livros para eu recomeçar. Sou muito grato”.
A veterinária Raquel Barbosa conta que sempre via a calçada repleta de livros e que, agora, o sentimento é de que está faltando algo. Ela e outros moradores do bairro têm ajudado o ambulante. Em dois dias, Odilon já recebeu mais de mil livros. "Eu moro aqui perto, é uma situação muito triste, o coração fica perdido, porque eu via diariamente o esforço dele em arrumar os exemplares e vender. Ele vendia baratinho para ter o dinheiro dele. Esse é o momento de ajudar. Se você tiver um livro em casa do qual nem se lembrava mais, vai ser importante para ele. Se tiver um dinheiro para poder ajudá-lo também, ele está precisando. Toda forma de ajuda é bem-vinda", explica.
O estagiário de direito Leandro Miranda, 27, ficou sabendo da história através de amigos e resolver não só doar, mas como comprar novos livros de Odilon. "Fiquei sabendo o que aconteceu e quis vir pessoalmente conhecê-lo e dar uma oportunidade não só para ele, mas para mim mesmo de conhecer novos livros e novas histórias".
E Odilon dá a dica para quem quiser ajudar ou até mesmo comprar um livro. "Eu não consigo ler muito, porque eu não sei ler direito e eu sou meio 'ceguinho', mas o pessoal costuma gostar dos livros do Harry Potter e de uma americana, Nora Roberts", revela.Letícia Fontes
Mas o comércio de livros a céu aberto instalado na calçada na rua Grão Mogol, que passou a fazer parte do cenário da região, foi alvo de vandalismo no último fim de semana. E seu esforço anos de trabalho foi incendiado. Pelo menos 3.000 livros foram destruídos por um homem que chegou a ser flagrado por câmeras de segurança. A polícia investiga o caso. Nas redes sociais, belo-horizontinos mobilizam esforços para conseguir novos exemplares para o Odilon vender.
"Eu não tenho inimizades, nunca ofendi ninguém, não consigo entender porque alguém fez isso. Mas vou ser bem sincero, não me surpreendi. Já passei por muita coisa nessa vida, difícil algo me abalar. Lamento pela pessoa, mas estou tranquilo, a gente não tem nada nessa vida mesmo", conta o ambulante.
O incêndio não foi o único contratempo sofrido por Odilon nos últimos tempos. Ele conta que recentemente foi alvo de ladrões também. Muito conhecido na região, ele costumava deixar os livros empacotados no local quando não estava trabalhando e nunca havia sido sofrido um roubo. Até que teve 5.000 exemplares levados. Agora, tenta superar os dois reveses e reerguer seu negócio.
A história de Odilon com os livros começou quando ele ainda recolhia e vendia garrafas PET e latinhas de alumínio para reciclagem. Ele conta que cansava de encontrar livros nas lixeiras. E resolveu, então, dar um novo destino aos exemplares. Foi quando se instalou na região com o objetivo de ter um negócio próprio.
A maior parte dos livros que Odilon comercializa é recebida de doações. Todos os exemplares do local são vendidos um preço único: R$ 5. No início, ele conta que vendia de três a cinco unidades por dia. Mas, até antes da quarentena, o volume deu um salto e a média chegou a cem por dia. Por conta do isolamento e da restrição do funcionamento do comércio, o ex-catador de papelão chegou a ficar dois meses parado e vinha sobrevivendo com a ajuda do auxílio do emergencial do governo federal.
Agora, Odilon conta novamente com a ajuda de vizinhos e clientes, para reerguer sua "livraria". “Vou mudar a maneira de trabalhar para que as pessoas não coloquem fogo mais, mas vou continuar aqui. Meu sonho mesmo é ter a minha própria banca, assim evitaria confusões”, revela.
A realização do sonho do ambulante também resolveria um outro problema. Dois anos atrás, ele chegou a ser expulso do local, quando a prefeitura recolheu 2.000 exemplares, pois o Código de Posturas da capital (lei 8.616/2003) proíbe este tipo de atividade em espaço público. Após repercussão, advogados de um escritório vizinho ao ponto onde ele vende os livros decidiram representá-lo para que ele ficasse por ali. Na época, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que iria fornecer ao “livreiro” uma vaga em um shopping popular.
Trabalhando de domingo a domingo, do horário do almoço até o anoitecer, o vendedor tem se surpreendido com a solidariedade. Mesmo sem trabalhar, ele tem ficado todos os dias em sua "banca" e, desde a última segunda-feira (29), tem recebido novos livros de moradores da região. "Eu to sempre aqui, mas mesmo quando não estou as pessoas têm deixado livros para eu recomeçar. Sou muito grato”.
A veterinária Raquel Barbosa conta que sempre via a calçada repleta de livros e que, agora, o sentimento é de que está faltando algo. Ela e outros moradores do bairro têm ajudado o ambulante. Em dois dias, Odilon já recebeu mais de mil livros. "Eu moro aqui perto, é uma situação muito triste, o coração fica perdido, porque eu via diariamente o esforço dele em arrumar os exemplares e vender. Ele vendia baratinho para ter o dinheiro dele. Esse é o momento de ajudar. Se você tiver um livro em casa do qual nem se lembrava mais, vai ser importante para ele. Se tiver um dinheiro para poder ajudá-lo também, ele está precisando. Toda forma de ajuda é bem-vinda", explica.
O estagiário de direito Leandro Miranda, 27, ficou sabendo da história através de amigos e resolver não só doar, mas como comprar novos livros de Odilon. "Fiquei sabendo o que aconteceu e quis vir pessoalmente conhecê-lo e dar uma oportunidade não só para ele, mas para mim mesmo de conhecer novos livros e novas histórias".
E Odilon dá a dica para quem quiser ajudar ou até mesmo comprar um livro. "Eu não consigo ler muito, porque eu não sei ler direito e eu sou meio 'ceguinho', mas o pessoal costuma gostar dos livros do Harry Potter e de uma americana, Nora Roberts", revela.Letícia Fontes
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