sábado, julho 25

Blá blá blá

 Pascal Campion
Palavras, palavras, palavras… Eu já não aguento mais!

Gonzaguinha, ainda bem que você não está aqui para ver o que andam fazendo com as palavras. Elas agora servem para disfarçar mentiras, negar evidências, espalhar boatos, propagandear remédios ineficazes, ameaçar quem permite ser considerado inferior. O poder que elas têm continua em vigor, pois, basta divulgar algumas poucas, para o mundo inteiro comentar, repassar, julgar, mesmo quando vindas de fontes duvidosas ou anônimas.

Mas as palavras dos líderes já não lideram multidões, a palavra empenhada é mero acordo temporário nem sempre cumprido, a palavra da lei é modificada conforme a necessidade dos interessados. Tudo ficou líquido, etéreo. Dia após dia, pisamos em areia movediça, sem certezas absolutas, sem futuro garantido.

Desabafamos o horror dessa pandemia moral criando charges, jingles, piadas, caricaturas, paródias que espalhamos pelas redes sociais, em busca de eco. Pouco repercutem também as palavras de especialistas sobre nossas Saúde, Educação, Economia, nossos Direitos e Deveres.

Entre os oprimidos, vivem os que acreditam nas versões oficiais sem qualquer questionamento e os que protestam, sempre sujeitos à repressão, por mais que as palavras governamentais preguem a democracia. Entre os poderosos, ainda sobrevive a prepotência, geralmente sinônimo de crueldade.

Algumas palavras têm feito alguma diferença, quando apresentadas na mídia. Escândalos já não contam com o silêncio das vítimas, maus tratos são denunciados, títulos ganham o verdadeiro valor, quando usados para desmandos, quadrilhas são desmascaradas. Os resultados de tudo isso ainda é modesto, mas começa a incomodar quem se julgava intocável.

Não bastasse tal realidade, temos ainda a Covid-19, o desmatamento e os gafanhotos para enfrentar. Mas o brasileiro resiste, acostumado que é a superar tragédias. Ainda consegue rir da própria desgraça, sobreviver ao isolamento que deprime nossa natureza comunitária e manter acesa a débil lamparina da esperança. O que confirma os versos de Gonzaguinha:

Com tempo ruim, todo mundo também dá bom dia…
Madô Martins

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