Yen-Ching Chang |
Chocolate era nosso maior pecado e jamais troquei o vinho tinto por qualquer outro, por ser seu preferido. Ouvia jazz com seus ouvidos, aprendia novas expressões em inglês por sua boca, mas palavras nunca foram imprescindíveis. Nas chegadas e partidas, nossas mãos se davam com uma saudade de séculos, de outras vidas. Fui me amalgamando, até não distinguir mais onde começava você e meu eu terminava.
Sua falta dói faz nove anos. Conservo o botão de seu casaco na caixa de costura. Há livros, cadernos e até fitas cassete pela casa, trazidos por você das muitas viagens. Ainda ecoa em meus ouvidos o cumprimento que usava no lugar do alô telefônico. E foram tantas e tão longas ligações que o pessoal do escritório, conferindo a fatura, brincava que “a destinatária só pode ser mãe ou namorada”.
Divido com você os escritos que não tivemos tempo de ler juntos. Revejo fotos de Cartier-Bresson onde permanece nosso olhar, filmes que nos fizeram vibrar, da primeira vez. Releio Gabo, Sabino, Cortázar, Neruda, Drummond com sua voz. E tudo isso me ajuda a sobreviver, sempre mesclada a seus apreços, à barba, aos olhos atentos por trás das lentes grossas, aos beijos que demoravam a acontecer, mas pareciam eternos, como esse amor único, ilógico, imenso, que ainda me inspira e alimenta.
É primavera, outra vez. Gosto de imaginar que ainda posso cantar “você tem meia hora/ pra mudar a minha vida”… E que um dia, como Maga e Oliveira, uma ponte estará à nossa espera. Para ela sigo esse tempo todo sem saber direito a direção, com a certeza do reencontro.
Sua falta dói faz nove anos. Conservo o botão de seu casaco na caixa de costura. Há livros, cadernos e até fitas cassete pela casa, trazidos por você das muitas viagens. Ainda ecoa em meus ouvidos o cumprimento que usava no lugar do alô telefônico. E foram tantas e tão longas ligações que o pessoal do escritório, conferindo a fatura, brincava que “a destinatária só pode ser mãe ou namorada”.
Divido com você os escritos que não tivemos tempo de ler juntos. Revejo fotos de Cartier-Bresson onde permanece nosso olhar, filmes que nos fizeram vibrar, da primeira vez. Releio Gabo, Sabino, Cortázar, Neruda, Drummond com sua voz. E tudo isso me ajuda a sobreviver, sempre mesclada a seus apreços, à barba, aos olhos atentos por trás das lentes grossas, aos beijos que demoravam a acontecer, mas pareciam eternos, como esse amor único, ilógico, imenso, que ainda me inspira e alimenta.
É primavera, outra vez. Gosto de imaginar que ainda posso cantar “você tem meia hora/ pra mudar a minha vida”… E que um dia, como Maga e Oliveira, uma ponte estará à nossa espera. Para ela sigo esse tempo todo sem saber direito a direção, com a certeza do reencontro.
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