… só morte tem encontrado
quem pensava encontrar a vida,
e o pouco que não foi morte
foi de vida severina
(aquela vida que é menos
vivida que defendida…)
.
Jamais imaginei que usasse um dia versos de Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, para ilustrar uma crônica. Nunca pensamos tanto na morte e valorizamos tanto a vida. A vida que passa diante dos olhos, no voo da borboleta, no mato acumulado em volta da árvore e que dá flor, no miado do gato de rua, sempre à mesma hora, no pio dos pássaros que visitam o telhado, nos urubus brincando de ciranda entre as nuvens, nas elegantes gaivotas e seu sóbrio silêncio. A vida que se reafirma na graça dos bebês, na inocência dos pequenos, na beleza dos jovens, na tenacidade dos adultos, na persistência dos idosos.
A morte que leva embora o vizinho amigo que, com a esposa, formava um casal invejável. Usavam a garagem fechada como estúdio, ele, para criar objetos de madeira e ela, para usar a máquina de costura. No dia em que passei mal, me acudiram prontamente. Na parede do escritório, tenho a floreira feita por ele, que recebi de presente. E a assisti desmontar o apartamento, quando resolveu voltar a morar em São Paulo, a fim de ficar mais perto de onde o marido permanecia internado. Por não gostar de despedidas, não se despediu. Penso que não volta.
A morte também está no obituário do jornal de todo dia, cada vez com mais colunas e nomes de todas as idades e profissões. Em conversas com os motoristas de táxi, quase sempre sobre perdas: o salário que não cobre as despesas, os parentes desempregados, a aposentadoria que ainda demora, o medo que representa cada passageiro, os boatos assustadores.
Assim sobrevivemos um ano e iniciamos outro, ainda sem certezas. Hoje devo tomar a primeira dose da vacina, defendendo a vida como Severina. Ela ainda me encanta, apesar dos altos e baixos, atualmente, mais baixos que altos. Ainda pulsa em cada ação, desejo, sonho, na fome, na sede, na saudade. O outono vem chegando, com sua brisa fresca e cores amenas. Tempo considerado de recolhimento, mesmo para nós, há tanto recolhidos. Se o presente não nos pertence, o futuro pertencerá. Há que se ter esperança.
A morte também está no obituário do jornal de todo dia, cada vez com mais colunas e nomes de todas as idades e profissões. Em conversas com os motoristas de táxi, quase sempre sobre perdas: o salário que não cobre as despesas, os parentes desempregados, a aposentadoria que ainda demora, o medo que representa cada passageiro, os boatos assustadores.
Assim sobrevivemos um ano e iniciamos outro, ainda sem certezas. Hoje devo tomar a primeira dose da vacina, defendendo a vida como Severina. Ela ainda me encanta, apesar dos altos e baixos, atualmente, mais baixos que altos. Ainda pulsa em cada ação, desejo, sonho, na fome, na sede, na saudade. O outono vem chegando, com sua brisa fresca e cores amenas. Tempo considerado de recolhimento, mesmo para nós, há tanto recolhidos. Se o presente não nos pertence, o futuro pertencerá. Há que se ter esperança.
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