Foi a uma hospedaria e pediu um pouco dos restos de comida deixada pelos hóspedes. Só havia comido gafanhoto no deserto, assim mesmo quando com sorte encontrava. O dono da hospedaria achou absurdo o que pedia. De graça não ia conseguir nada. Trabalhasse como os outros. Tinha que pagar para comer as sobras da comida, eram aproveitadas pelos porcos.
De volta à montanha. Vários dias em jejum. Apareceu num sábado. A feira cheia de gente como sempre. Curiosos formaram grande multidão em torno dele.
Disse numa voz clara e vagarosa:
– O dinheiro não é o mandamento de tudo, a força do mundo. Não compra o amor, a amizade, a paz, tantas coisas maravilhosas.
Alguns chegaram com as tabuletas. Mostraram à multidão de curiosos diante dele. Diziam:
Dinheiro eu te quero bem,
Por isso o meu bolso sempre tem.
Se o dinheiro não traz felicidade,
Me dê o seu e seja feliz.
Quem disser que tem amigo
Tem de si pouca ciência.
Amigo só existe aquele,
O da própria conveniência
Dinheiro estocado,
Pensamento comprado
Braços dele clamando aos céus:
– É mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que o rico entrar no reino do céu.
Pronunciou as palavras com o peito contrito, certo de que estava alertando os incautos com uma frase de sabedoria milenar.
Recebeu estrondosa vaia. Os mais irados pegaram pedras. Começaram a atirar nele.
Pisotearam, cuspiram no cadáver. Acharam que devia ser enterrado ali mesmo, evitando-se que as carnes dele, com um cheiro horroroso, propagassem a peste.
Jogada a última pá de terra no buraco, o céu escureceu, trovões ribombaram no lado do crepúsculo. Chuva de fogo caiu de repente, túmulos abriram-se, vento uivou sem cessar. Terremoto começou a partir a terra em pedaços.
Tempos depois, o Conselho dos Aldeões Velhos mandou erguer o monumento junto ao túmulo para homenagear a sua memória. No pedestal da estátua do homem desconhecido, colocaram essa inscrição:
A MAIS DIFÍCIL PROVA É A DA INOCÊNCIA
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