Durante os três (quatro, cinco...) dias de pagode, imperam os disparates dos súditos de Momo Primeiro e Único, fora os outros trinta - Cidadão Samba, Cidadão Recreativista, Rei do Carnaval, as respectivas Rainhas e Princesas, D. Higiênico Sales, Marechal de Cama-e-Mesa Átero Escler Ozze, e menos votados.
Marmanjo trajando fralda suja nos fundilhos com creme de abacate...
Neros coroados de arruda tangendo mudas harpas de tábuas de privada...
Zorros de sapato-tanque ao lado dos fiéis Bêbados, isto é, Tontos...
Grandes astros internacionais cuja maior graça reside no fato indiscutível de não serem astros, nem grandes, e internacionais lá pras negas deles...
Árabes de lençol e toalha santista (os mais refinados) em busca de um oásis que venda caipirinha...
O imortal General da Banda. Melhor um General da Banda que outra banda dos generais...
Marte, o Deus da Guerra, de batom e cílios postiços, com os bordados da capa (diviiina) feitos pela mamãe (dele)...
Odaliscas de cocar bebendo uísque nacional, melindrosas com o que a baiana tem na piteira, gregas com o chapéu de tirolesa, cheirando lança...
A rainha do Carnaval (uma delas) apertada pra fazer xixi, perguntando pelo “Wanderley Cardoso”…
Cartolas enormes, próprias pros palhaços que “dirigem” nosso futebol...
Blocos de Sujo muito mais limpos que o jet-set...
Buda, logo atrás de um Preto Velho, empurrado por tapuias de cueca zorba...
A freira que é barbadinho com o hábito levantado... A Rainha Louca sentada num Círio de Nazaré. É louca mesmo, sô...
O nomezinho daquela doce gueixa é Oswaldo, torneiro-mecânico de profissão...
Que qui a cobra tá fazendo ali na Cleópatra? A transação não foi no seio?...
Santos Dumont estacionando o 14-BIS no Aterro pra ir tomar uma loura com a escurinha...
A moça nua em cima da mesa: duas listrinhas claras - tirou o bustiê, arrancaram a tanga - no corpo queimado. Zebra estilizada?...
Acima a depilação! Quer dizer, embaixo, por favor, não...
Um jacaré de rancho dança frevo em Irajá tomando mamadeira cheia de maracujá...
O Fantástico Marajá de Laori ameaçando dar uma sandalhada no Esplendor de Assurbanípal...
O Incrível Hulk, bastante emagrecido, tomando cachaça e escarrando sangue num coreto da Penha...
Escravas de correntes douradas e sandálias havaianas...
Chope, chope, chope pra afastar o calor...
Coxas, coxas, coxas pra aumentar o tesão...
A fantasia de legionário, miragem de todas as juventudes...
Palha, ráfia, isopor, paetê, fita - materiais que o BNH usará no futuro...
A Princesa Isabel sofrendo com as cólicas menstruais no desfile do Grupo III...
Um pierrô - até que enfim! - corneando o arlequim...
Mais nobreza decadente: o Rei Sol palmeando um cabo da PM...
Zumbi dos Palmares no repique, morcegos brincando à luz do dia, Clóvis na linha do trem para todo o sempre...
Aquele tampinha, perto da cabrocha e do rubro-negro de patinete, ali ó, não é o tal do general Jaruzelski?...
E, comandando a Ala do Bochincho, Tamandaré batendo o pé: - Sem minhas guias e colares por cima das medalhas, nem morta!...
Por aí afora, O negócio é aproveitar. Porque depois restauram a moralidade, refazem a Lei, recompõem a ordem, e aí, durante uns trezentos e sessenta dias imperam a seriedade do general que manda assassinar desafetos como qualquer dono de boca-de-fumo, a austeridade de um Ministro da Justiça contrabandeando joias, desfalques, desvios, escândalos!
A não ser no Carnaval, o Brasil é a maior zona.
Aldir Blanc, "Brasil passado a sujo"
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