terça-feira, fevereiro 8

De poetas e de poetices

Descobriu, tardia e doloridamente, que o melhor que poderia ter feito pela poesia seria não tê-la feito.


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Teve com a poesia uma relação incompleta: chamava-a de minha querida, mas ela não o chamava de poeta.

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Em qualquer inquérito sobre a derrocada de uma carreira poética, os sonetos são os principais investigados.

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De uma loira longilínea não se deve exigir atrativo nenhum além daquele que se usufrui na ponta da língua ao dizermos as duas palavras da deliciosa aliteração: loira longilínea.

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O que nos últimos sessenta anos houve entre mim e a poesia foi conhecido por não mais que meia dúzia de leitores enfastiados.

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Ser chamado de poeta futuroso é uma dessas coisas que, como o amor, só têm sentido pleno dos quinze aos, no máximo, vinte anos.

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Ao resolver dedicar-se a causas sociais, a primeira que o poeta defendeu foi a fixação de cotas para rimas pobres.

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Escrevi algumas coisinhas razoáveis nestes anos em que venho tentando ser poeta. São poucas, duas ou três, mas ninguém, nem mesmo eu, que me odeio tanto, devo deixar de reconhecer isso.

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Mais do que os pensadores, os poetas às vezes são tentados a seguir o conceito de arte pela arte e buscar a perfeição, como se a literatura fosse um passatempo refinado para entreter os deuses.

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Deste lago não sai mais cisne, disse, meio jocosa e meio tristemente, o velho sonetista quando lhe perguntaram por que não escrevia mais.

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O pior momento, para um escritor, é aquele no qual descobre que nenhum de seus caminhos leva a Estocolmo.

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Minha tese de mestrado tem a morte como assunto. Sou um homem aplicado e hei de ser um bom defunto.
Raul Drewnick

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