Quando eu tinha 3 anos, tinha um irmão de 10 e torcia do fundo do meu coração, para ser igual a ele quando crescesse. Não que houvesse alguma chance. Meu irmão mais velho já havia pulado duas séries na escola e tinha uma compreensão invejável de tudo, de física atômica e programação de computadores ao alfabeto cirílico. Mais ou menos nessa época, meu irmão começou a ter uma séria preocupação comigo. Um artigo que leu no Haaretz dizia que os analfabetos são excluídos do mercado de trabalho e o incomodava muito que seu irmão de 3 anos viesse a ter dificuldade para encontrar emprego. Assim começou a me ensinar a ler e escrever com uma técnica singular que chamava de “método do chiclete”. Funcionava da seguinte maneira: meu irmão apontava uma palavra que eu tinha de ler em voz alta. Se eu lesse corretamente, ele me dava um pedaço de chiclete não mastigado. Se cometesse um erro, ele grudava o chiclete que mascava no meu cabelo. O método funcionou como mágica e, aos 4 anos, eu era a única criança na creche que sabia ler.
Etgar Keret, ”Sete anos bons"
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