Linda Minkowski |
floriam e nunca perdiam as folhas. Fora da ilha cresciam leitos de algas marrons que, levadas à terra pelas ondas, exalavam um cheiro incômodo e alimentavam enxames de grandes pulgas pálidas. Havia formigas fervilhando por toda parte, do mesmo tipo que tínhamos na Bahia, e uma outra praga também, morando nas dunas: um inseto minúsculo que se esconde entre os dedos dos pés e escava sua trilha para dentro do corpo. Nem mesmo a pele dura de Sexta‑feira era à prova deles: havia fendas sangrando em seus pés, embora ele não desse importância a elas. Não vi cobras, mas lagartos saíam no calor do dia para tomar sol, alguns pequenos e ágeis, outros grandes e desajeitados com babados azuis na papada, que desfraldariam quando alarmados, e sibilariam e ameaçariam. Prendi um deles num saco e tentei domá‑lo, dando‑lhe moscas para comer; mas não aceitava carne morta, então acabei libertando‑o. Além disso, havia macacos (dos quais falarei mais adiante) e pássaros, pássaros por toda parte: não apenas bandos de pardais (ou assim eu os chamava) que adejavam o dia inteiro chilreando de arbusto em arbusto, mas, nos rochedos acima do mar, grandes tribos de gaivotas, gaivinas, alcatrazes e cormorões, de forma que as pedras ficavam brancas com suas fezes. E no mar golfinhos, focas e peixes de todo tipo. Então, se a companhia de animais irracionais me bastasse, eu poderia ter vivido muito alegremente em minha ilha. Mas quem, acostumado à riqueza da fala humana, pode se contentar com grasnidos, chilreios e guinchos, com o latido das focas e o
gemido do vento?
J.M. Coetzee, "Foe"
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