segunda-feira, junho 12

O aceno da morte

Talvez a morte já tenha até me feito um sinal, e eu ou não tenha entendido ou tenha entendido mal.

***

Também eu nunca fui aplaudido em cena aberta. Como vocês, sempre quis fazer tudo bem, tudo certo, e tudo fiz, e tudo refiz, e ensaiei e reensaiei, mas jamais consegui fazer certo a coisa certa. Como vocês, fiz o papel que fiz como o melhor ator faz seu melhor papel, e faço ainda e espero ainda que um espectador, ainda que o mais sonso de todos, se erga e espante a plateia gritando bis, bis, bis, bis.

***
Enfeitei minha tristeza da melhor forma que pude e fui vendê-la na esquina: eis minha maior riqueza, eis minha maior virtude.

***

Entreguei-me à tristeza como quem, depois de muito aos outros recorrer, jurou um dia não se socorrer nem mais de nada nem de mais ninguém.

***

Se os grandes homens fizeram aquilo que nos cabia, durmamos sobre seus louros, louvemos sua autoria.

***

Qual vem de quem, com certeza eu dizer não saberia: se a poesia da tristeza, se a tristeza da poesia.

***

Creio ter chegado o instante de pôr os pingos nos is. Eu seria melhor Dante se fosses melhor Beatriz.

***

Eu era feliz, eu sorria. Era jovem e ainda achava que tudo quanto eu pensava se transformaria em poesia.

***

Posso tudo aparentar, posso tudo ser, menos destro. Não tenho mão de pintor, não tenho mão de reger, não sou mestre, não sou maestro. Sou desnorteado, sou estouvado, sou ambicanhestro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário