quarta-feira, junho 28

Promoção póstuma

Era um morto bisonho, num velório de periferia. Mas, de repente, de algum lugar, talvez do colégio vizinho, uma banda fez explodir sons triunfais pelo ar. Os netos gêmeos do defunto, duas crianças de seis anos, Joana e João, começaram a dançar, gritando viva, viva, viva, enquanto os adultos se puseram a bater palmas, como se houvessem descoberto que dentro do caixão estava o homenageado pela música retumbante.

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Podemos ser grandes até diante de Shakespeare. Leitores, naturalmente.

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Estou onde não estou. Uso a força do meu ser para me desconhecer. Quando eu me nego é que eu sou.

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Houve um tempo em que andei ocultando minha tristeza, não por modéstia, mas por astúcia. Receava que olhos invejosos resolvessem tomá-la de mim. Se alguém me perguntava se eu estava triste, eu sorria.

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Rainha minha, onde estáveis? Desde o dia em que partistes, vos chamam meus versos tristes. Rainha, não me escutáveis? Onde vos ocultáveis o vento não vos levava e nem o eco duplicava minhas palavras amáveis? Não importa. Vós voltastes e talvez vos deem prazer as que hoje tenho a dizer e as que então não escutastes. Chamo-vos de vós porque não conheço melhor forma de chamar-vos.

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Reduz a voz, toma tento, não assumas esses ares. Se Deus te deu um talento, não foi para te ufanares.

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Estocolmo é tão longe, e estes meus passos que não conhecem mais que o aqui e o ali levam-me, por perdas e fracassos, à Barra Funda e ao Alto do Pari.

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A de vocês eu não sei, posso falar-lhes da minha. Minha história cabe inteira nos versos de uma quadrinha.

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