O menino parece estar voltando da escola e aparenta cansaço. Não tira o capuz da cabeça, embora não esteja frio. Parece entediado e sonolento. Ocupa um dos assentos do ônibus que percorre o centro e segue para o morro, onde parece morar e talvez ainda tenha que enfrentar a escadaria com a mochila nas costas.
É dos poucos que não usa o celular. Os demais passageiros ignoram sua presença discreta de roupas simples, fazendo supor que não possui o viciante aparelho. Nem a mãe, sentada um banco à frente com o bebê nos braços. Quando ela se prepara para descer sem olhar para trás, ele a acompanha, ajudando a levar a sacola.
Um garoto sem sorrisos nem brilho no olhar, como tantos que encontro por aí. A quem não lhe dirigem a palavra, muito menos, afagos. Tem mãos bonitas, quem sabe se torne um pianista, se a sorte ajudar. Ou as ocupe no teclado do celular, quando tiver acesso a algum. Por enquanto, é quase uma sombra…
Na sala de espera do laboratório, a jovem esposa retorna do exame e chama o marido pelo nome, mas ele está distraído com o celular. A moça precisa percorrer as cadeiras em fila, para tocar em seu braço. Ele reage levantando, sem tirar os olhos da telinha ou perguntar como foi a consulta.
Ela desce a escada na frente, ele a segue vagarosamente, ainda conectado ao telefone. Não há comunicação verbal entre eles. E talvez sigam assim, em paralelas, até o caminho de casa, até o resto de suas vidas, que sei eu?
Madô Martins
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