sexta-feira, junho 28

A livraria

Uma porta e um metro e meio de vitrina escura, era essa toda a extensão da fachada. Via-se que a literatura era um luxo; aqui ela tomava seu lugar proporcional, nesse lugar de necessidade. Mesmo assim, o consolo era que ela sobrevivera, definitivamente sobrevivera.

O proprietário da loja estava parado à porta, um homem pequenino, de barba grisalha e com olhos muito vivos atrás dos óculos que encimavam seu nariz comprido e agudo. - Os negócios vão bem?-perguntei.

-Eram melhores no tempo do meu avô - ele me respondeu, sacudindo a cabeça com tristeza.

- Ficamos cada vez mais filisteus - sugeri.

- É a nossa impensa barata. O efêmero domina o pensameno,,o clássico.

- Esse jornalismo, ou pode-se dizer, esse cotidianismo trivial é amaldição da nossa era - concordei.

- Serve só para ... - Ele gesticulou com as mãos, como se procurasse agarrar a palavra.

- Para o fogo.

O velho foi triunfantemente enfático ao dizer:

- Não, para o esgoto.

Sorri, solidário com sua veemência

- Concordamos agradavelmente em nossa opinião - falei.

- Posso dar uma olhada em seus tesouros?

Aldous Huxley, "Contos escolhidos"

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