quarta-feira, junho 12

Artimanhas do destino

Ela viria num trem, viria num navio, viria a pé talvez. Era possível que, sem ele saber, ela fosse vizinha sua e o destino a estivesse reservando para um dia especial, o dia dos dias, em que a primavera fosse mais primavera. Ela viria, se ele pudesse crer nos livros que lera e naquela doce aflição no peito que, desde menino, lhe tinham dito que era poesia.

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Depois do vão desatino, do som sem nexo e da fúria, dos ímpetos de altivez, impõe-se nosso destino: o desencanto, a penúria, miséria atroz, pequenez.

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Talvez por mera ironia, foi este o destino meu: vivi o que eu não queria e o que eu queria morreu.

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Se é verdade que cada um de nós faz o seu destino, tenho uma queixa: não sou importante, longe disso, mas bem que poderiam ter me designado um administrador melhor.

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Eu já devia ter compreendido. Se fosse meu destino ser poeta, há muito eu já teria sido.

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Ele começa sempre fingindo que se perdeu no corpo dela e depois desse pânico simulado é que se põe a movimentar-se, inseguro, estupidamente para o fundo, para dentro, como um náufrago a quem não se há de censurar que tudo faça para salvar-se, embora seu destino já esteja escrito.

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