Este poderia ser o preâmbulo de uma publicação sobre uma distopia, um "lugar ruim" qualquer. Tragicamente é a síntese da reação adversa desencadeada pela adoção curricular de alguns livros que abordam a temática racial —a despeito da obrigação legal (lei 10.639/2003) do ensino da história e da cultura afro-brasileira em nossas escolas.
A leitura é um hábito fundamental para o desenvolvimento do raciocínio, senso crítico e capacidade de interpretação da realidade. E é justamente na problematização do preconceito e da discriminação que reside a resistência de setores da sociedade que se acostumaram a naturalizar o racismo institucionalizado.
Nessa toada, livros como "O Avesso da Pele", de Jeferson Tenório (vencedor do prêmio Jabuti, em 2021), sobre a vida de um professor negro morto numa ação policial; "Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas", de Flávia Martins de Carvalho, sobre 20 personalidades (a maioria negras) com histórias inspiradoras; "O Menino Marrom", de Ziraldo, que aborda a construção da identidade de uma criança preta discriminada ao oferecer ajuda a uma idosa; e "Omo-Oba: Histórias de Princesas", de Kiusam de Oliveira, sobre o conto dos Orixás e mitos africanos, vêm sendo "contraindicados" em escolas brasileiras desde 2018.
O poder combativo da linguagem é inegável. O livro é ferramenta importante no processo de construção da individualidade. E a literatura negra é uma forma de resistência que ajuda a enfrentar a intolerância à diversidade, além de afirmar identidades negras.
A questão é: quem está realmente interessado em promover a equidade racial num país onde critérios racistas definem privilégios e orientam as relações sociais há mais de 500 anos?
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