quinta-feira, maio 7

Loira de vestido grená

Não sei por que (embora talvez saiba muito bem) me lembrei hoje de uma conversa que ouvi quando menino. Eram todos homens velhos e, cada um a seu modo, concordavam num ponto: a Morte, quando viesse, seria uma loira belíssima de vestido grená.

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O amor é a tolice que mais nos gabamos de cometer.

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Quem encontrar uma tristeza toda desengonçada, toda estragadinha, faça o favor de ligar: é minha.

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Provérbio que ladra não morde.

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Quem viver viverá.

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Não precisarmos dizer nada é uma bênção quase sempre tardia.

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Deve ter ido para o céu. Poeta, morreu jovem, sem tempo de ser possuído pela lúbrica tentação dos sonetos.

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No final, se algo se mover em nós, que nos conduza ainda no rumo da beleza.

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Os truques de um defunto, como ficar sem se mover e sem respirar, geralmente são mais apreciados pelos espectadores jovens. Os adultos logo se enfastiam.

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Há quem considere injusto o destaque dado num velório justamente àquele personagem que nada faz além de se omitir.

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Bilac, quando conversava com as estrelas, tratava-as de vós. Quintana, de vocês.

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Para um poeta concretista, manter os pés no chão não é uma vergonha; é uma questão de honra.

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Se você é poeta e não se chama Arthur Rimbaud, nem recebe dele poemas psicografados, eu só lhe digo isto: continue trabalhando, mesmo que você esteja fazendo isso há já cinquenta anos.

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Se a literatura for a razão de sua vida, não tenha vergonha de dizer. Se tiver, mude suas prioridades.

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Mario Quintana era um poeta simples, um poeta completo, um poeta poeta.

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Muitos dos que dizem que escrever é uma bênção deveriam antes saber a opinião dos leitores.
Raul Drewnick

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