O problema é que sou péssimo em depoimentos. Ao vivo minhas ideias parecem confusas e sem sentido, não sei se vou para lá ou para cá nos argumentos e acabo levando um baile na retórica. Acaba que ninguém entende nada, não se sabe se sou contra ou a favor e no fim nem eu mesmo compreendo o que disse. Sem falar na dicção péssima: engulo as sílabas e os esses como se fossem pipocas no cinema. Quando era criança a minha mãe repetia que eu deveria ir ao fonoaudiólogo, porque ninguém entendia o que dizia. Com o tempo passou a fazer campanha pela ida ao terapeuta, porque o problema é que ninguém entende o que penso. Uma visionária.
Ao gravar a primeira tentativa lembrei da mamãe. Parecia um tweet do Carluxo narrado pelo Chewbacca. Achei que era melhor dar uma olhada nos depoimentos dos outros e — na cara de pau — copiar o que fizeram. O Gregório falou muito bem na frente de uma biblioteca. A Miriam Leitão disse o fundamental com um monte de livros atrás e o Marechal, sábio, parecia desfilar na Biblioteca do Congresso. Eu, com rara perspicácia, percebi que havia algo em comum: livros. Para não dar vexame tirei do armário a coleção “Imortais da literatura universal” — que ganhei nos anos 70 e ainda não li —e botei “Crime e castigo” no lugar no “Manual do Escoteiro Mirim”, “Moby Dick” na frente do “Pequeno Príncipe” e “Os Irmãos Karamazov” escondendo a coleção de autoajuda. Mesmo assim não ficou bom, a iluminação da sala me deixou com olheiras profundas — praticamente um panda — e, com uma dicroica bem por cima, a cabeleira ficou no estilo piscina: “cheia, mas dá pra ver o fundo”. Um desastre visual, pecado mortal para um fotógrafo.
Ao gravar a primeira tentativa lembrei da mamãe. Parecia um tweet do Carluxo narrado pelo Chewbacca. Achei que era melhor dar uma olhada nos depoimentos dos outros e — na cara de pau — copiar o que fizeram. O Gregório falou muito bem na frente de uma biblioteca. A Miriam Leitão disse o fundamental com um monte de livros atrás e o Marechal, sábio, parecia desfilar na Biblioteca do Congresso. Eu, com rara perspicácia, percebi que havia algo em comum: livros. Para não dar vexame tirei do armário a coleção “Imortais da literatura universal” — que ganhei nos anos 70 e ainda não li —e botei “Crime e castigo” no lugar no “Manual do Escoteiro Mirim”, “Moby Dick” na frente do “Pequeno Príncipe” e “Os Irmãos Karamazov” escondendo a coleção de autoajuda. Mesmo assim não ficou bom, a iluminação da sala me deixou com olheiras profundas — praticamente um panda — e, com uma dicroica bem por cima, a cabeleira ficou no estilo piscina: “cheia, mas dá pra ver o fundo”. Um desastre visual, pecado mortal para um fotógrafo.
A solução foi ir para a Gávea, para o meu estúdio. Lá tem um espelho de camarim, aquele com um monte de lâmpadas em volta, que deixa todo mundo lindo. O importante é a cútis, já tinham me alertado o Cauby e a Hebe. Era só gravar na luz do camarim que estava resolvido, ninguém me daria mais do que 52. O problema é que por trás ia aparecer só uma dúzia de livros, os que estão exilados na Gávea.
Veja só leitor, a minha situação: ou eu gravava na sala, para tirar onda de inteligente em frente a um monte de livros, ou então com poucos livros, mas na luz favorável do estúdio, para ficar bonito. A eterna disputa entre aparência e conteúdo. A aparência, claro, venceu, afinal estamos em 2021. O depoimento ficou confuso, a voz parece a do Moro com gripe, mas reparem bem: nada de olheiras, nenhuma ruga. Um pêssego, diriam, orgulhosos, Hebe e Cauby.
Não acredito que o meu desastroso testemunho vá colaborar com esta justa campanha, que os leitores também devem apoiar, frequentando e comprando nas livrarias de rua. Melhor seria se eu encontrasse outra maneira de ajudar, que não envolva câmeras ou microfones. Prometo aos organizadores pensar em algo.
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